terça-feira, 29 de dezembro de 2009

71 – A Dama do Metrô.





Em frente ao micro, seus dedos imprimiam na telinha sua memória, Malu tentava de uma maneira, até pode se dizer, dolorida, procurar entender sua obsessão maníaca e sexual levando-a agir às vezes descontroladamente.
Ela não sentia remorso, ódio, aliás, em seu peito não tinha lugar para sentimentos que considerava fora do seu alcance. Havia um espaço em branco, um buraco que a alimentava corrosivamente. Tinha noção dos seus atos, não pensava nas conseqüências, coisa que para ela não existia. Não tinha noção e nem sentimento de culpa, não nasceu assim, fizeram que ela fosse assim. Culpava o idiota do irmão, aquele drogado que só pensava em sexo, droga e correr atrás das putas, culpava o irmão por usá-la; culpava o pai sabendo o que se passava no barracão e nada fez para impedir, aliás, queria participar também e por ser covarde tomou uma atitude errada; culpava a mãe por seu distanciamento e por acobertar tudo o que acontecia suportando trabalhar horas e horas por dia sustentando dois animais inúteis. Não sentia pena deles e nem dó, deveriam ser eliminados da face da terra.
Há tempo estava ali? Olhou o relógio. Quarenta e cinco minutos. Rodou a caneta nos dedos sem saber o que fazer. Leu mais uma vez o teste. Não entendia nada, tinha pequena noção de algumas questões, o que não a ajudaria. Precisava do emprego, estava quase dois meses sem pagar o hotel, logo seria despejada. Olhou para os lados, estavam todos compenetrados de cabeça baixa. O selecionador, rapaz bonito, alto, ombros largos, cabelos pretos empastado de gel, a todo o momento coçava a virilha olhando em sua direção.
- O que ele quer dizer com isso? – pensou.
Voltou os olhos para o papel. Precisava responder alguma coisa, seria vergonhoso entregar em branco. Os segundos e minutos passavam numa velocidade atroz. Com o rabo do olho, Malu percebeu que o selecionador estava ao lado dela. Ergueu os olhos mortiços prontos para o que viesse. Distinguiu um sorriso maroto nos lábios finos de vermelha sexualidade. Um suor frio seco descarregou eletricidade indo pousar levemente entre suas coxas. Sorriu também.
Todos já tinham entregado os testes, apenas ela permanecia na sala. Ainda faltava mais de meia hora. Portanto achou de direito se arriscar. Não tinha nada a perder mesmo. Sabia que não seria selecionada, pouca coisa respondera.
- Escuta, vejo que você durante o tempo todo não tirou os olhos sobre mim.
- É verdade.
- Então vou propor uma coisa para você.
- O que?
- Bem, você é bonito, vejo que seu excitamento é evidente, sua calça deixa transparecer isso, bom... Vou direto ao assunto. Deixo você me possuir, porque também quero sentir você dentro de mim, e em troca quero o emprego, entende?
- Entendo.
- Então, combinado? – perguntou, e se aproximando pousou a mão no peito do rapaz que num ímpeto a tomou nos braços e beijou-a longamente.
Malu sentiu toda a força viril sendo tragada por ela em sua língua. Não deixando por menos, deslizou a mão do peito até a braguilha abaixando o zíper. O rapaz virando-se jogou seu corpo em cima da mesa, arrancou sua calcinha, e a penetrou, não numa velocidade faminta, mas num desejo em tê-la tão em seus braços ao sentir a quentura queimando sua pele peniana.
Assim que terminaram, Malu se recompôs, ajeitou a gravata dele, beijou-o suavemente.
- Onde é o banheiro?
- É no fim do corredor. – disse ele.
Uma semana depois, Malu recebeu um telefonema chamando-a. Conseguira o emprego, rodopiou feliz e constatou seu poder de controle sobre essa raça infeliz que é o homem.

27.06.07
pastorelli

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

70 – A Dama do Metrô.




Malu se jogou na cama. Cansada queria dormir, mas precisava de um banho e desfazer das roupas. Suja, mais de três dias com a mesma roupa fedia como gambá. Comprara roupas decentes. Não podia procurar emprego com a roupa suja, fedendo. Não quis usar os cartões dos rapazes, ficou com medo. Tinha quebrado todos os cartões e jogado no lixo. Comprara as roupas com o dinheiro deles, portanto tinha que economizar. Rolou na cama imaginando a surpresa deles ao acordarem nus e abraçados.
Saíram do restaurante, como se diz no jargão dos embriagados, trançando as pernas. Felipe e RR abraçados se apoiavam em Malu que era a que menos bebera. Com uma certa dificuldade subiram a escada, por infelicidade o elevador estava quebrado. Assim que fecharam a porta do quarto, os três se jogaram na cama rindo com a situação.
Malu pegou as duas garrafas de vinho que trouxera e se dirigiu à cozinha.
- Esperem aqui, meninos, que vou abrir o vinho para continuarmos com a festa.
Ao voltar encontrou Felipe quase nu, só de cueca. Viu que teria um certo trabalho com ele, pois percebeu que por dentro da cueca ridícula que usava, todo o excitamento do prazer se mostrava sem pudor.
- Caramba! Você é apressado.
- Vai, Malu, faz para a gente ver. – disse RR.
- Fazer o que? – perguntou passando para eles um copo cheio de vinho.
- O strip-teeser que fazia no barracão.
- Ah! Safado lembra disso é?
- Lembro.
- Está bem. Mas com uma condição, depois você faz o seu, está bem?
- Claro – concordou RR bamboleando-se no álcool que o comandava.
Malu se posicionou no meio do quarto. Apagou as luzes do lustre, deixando apenas as do abajur aceso e começou num movimento bem lento o seu show. Sabia que precisava entreter ao máximo para conseguir o que queria. Olhando para Felipe, viu que ele se masturbava por cima da cueca.
- Esse cara vai ser difícil tombar. – pensou.
Calculando os gestos propositadamente, passou diversas vezes às mãos nos seios, descendo até entre as pernas, simulou felação com os dedos, e, num movimento estudado retirou a blusa, em seguida deixou a saia cair no chão do quarto, e o sutiã jogou no rosto de Felipe que num gesto rápido desviou pouco se importando com a peça intima de Malu.
- É já vi, vou ter trabalho com esse cara. – pensou.
Então teve uma idéia.
- Agora é a vez de um de vocês fazer um strip para mim. Já que Felipe está só de cueca que tal você RR?
- Eu?
- Sim, você.
- Por que eu?
- Por que você é o mais bonito e o mais sexy.
- Está bem, vou fazer.
RR, em pé na cama, começou a tirar a camisa num movimento lerdo por causa do álcool, seus gestos descontrolados não tinham nada de erótico, no entanto ao se abaixar para tirar as calças, desabou na cama num sono profundo.
- Pronto esse já era. – pensou Malu – agora vamos ver o Felipe.
Aproximando-se dele, Malu o induziu a ser levada para cama e lá começaram o jogo erótico das caricias preliminares, deixando Malu meio que acesa. Surpreendeu-se com o vigor sexual de Felipe, mesmo embriagado, seu excitamento levava-a a gozar várias vezes, o que não estava em seus planos. Assim mesmo procurou tirar proveito.
- Felipe, calma, estou com sede. Vamos tomar um copo de vinho.
Encheu o copo dele até a borda, no seu apenas molhou o fundo. Beberam entre beijos e abraços, num torvelinho no qual Malu pensou que não sairia mais. Por fim, saciando-se num orgasmo prolongado, Felipe tombou de lado fechando os olhos satisfeitos.
- Ufa! Até que enfim. – disse saltando da cama o mais rápido possível.
Vestiu-se, pegou as roupas dos dois, enfiou numa sacola, pegou as carteiras e verificou que estavam cheias. Com certo esforço colocou os dois nus e abraçados. Da porta, antes de sair, se virou para ver o efeito da cena. Lá estavam os dois mancebos como se fossem dois namorados. Fechou a porta bem devagar.


26.06.07
pastorelli

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

69 – A Dama do Metrô




Obedecendo ao balanço do ônibus que numa curva da estrada precisou diminuir a marcha, Malu acordou sobressaltada. Sorriu aliviada ao perceber onde estava. Instintivamente procurou pela bolsa. Não encontrou, pois se recordou que saiu de casa somente com a roupa do corpo. Abraçou a sacola onde estavam as roupas dos rapazes e, verificou a carteira. Precisava logo chegar em São Paulo desfazer disso tudo pensou se aconchegando em seus braços o escuro da noite que principiava a morrer pela claridade vermelha que se via ao longe. Malu abraçada a si mesma voltou a dormir.
Entraram num pequeno restaurante. RR agindo ironicamente demonstrou seu cavalheirismo ao puxar a cadeira para que ela pudesse sentar. Malu desprezava a ironia feita pejorativamente. Não deu atenção ao fato. Sentou-se e pegou do cardápio.
- O que vai querer? – perguntou-lhe RR.
- Não sei ainda, o que você recomenda?
- Um prato simples...
- Avarento – replicou Malu.
- Não, nada disso, é que depois, já viu né... Poderá nos fazer mal.
- Entendo.
- Posso pedir uma coisa para você?
- Claro!
- Bom, é que meu amigo está fascinado por você, e queria lhe conhecer, posso convidá-lo a fazer parte da nossa mesa?
- Pode – respondeu vendo nisso segundas intenções, mas como estava em desvantagem achou melhor concordar e tirar proveito disso tudo.
A um gesto de RR, Malu viu um rapaz loiro, bonito, alto se aproximar da mesa. Tinha um caminhar meio desleixado, mas percebeu que era sua maneira de andar.
- Olá – disse se aproximando da mesa.
- Malu, quero lhe apresentar Felipe.
- Prazer Felipe, sente-se.
- Prazer Malu, obrigado.
- Quer dizer que já estava tudo combinado?
- O que combinado Malu?
- O que? Esse encontro de você, Felipe eu...
- Nada disso, é que eu sempre quis conhecer a garota do barracão...
- E agora conhece.
- Sim agora estou conhecendo.
- E o que acha?
- Linda, fenomenal.
- Então podemos dispensar RR e....
- Não espere aí, nada de dispensar ninguém, olhe o que você prometeu Malu.
- Está certo, vamos pedir champanhe? Ou caipirinha e cerveja?
- O que você acha Felipe?
- Prefiro caipirinha e cerveja.
- Ok, então vamos de cerveja e caipirinha. – disse RR chamando o garçom.

25.06.07
pastorelli