domingo, 29 de junho de 2008

25 – A Dama do Metrô

O jantar de fim de ano estava, como sempre, animado. Os mais audaciosos enfrentavam a pista se soltando ao comando do álcool como se fossem os astros principais da festa. Aureliano tentava umas passadas, junto com uma sirigaita, loira, que rebolava descaradamente colado a ele. Levado pela euforia da bebida, esquecera até o propósito em conquistar Malu.
Com seu olhar de lince, notou que estava sendo deixada de lado por aquela lambisgóia. Aureliano se esquecera dela. Mas como pantera que sabe dar o seu golpe na hora certa, Malu esperava o momento oportuno. Foi para o meio da pista e, sem se importar de estar dançando sozinha, aos poucos foi se achegando ao casal que despudoradamente colados dançavam parados, mal mexendo os pés. Em dado momento, se viu perto deles. A loira oxigenada, com a cabeça apoiada no ombro do parceiro, com os olhos fechados, não viu Malu colado às costas de Aureliano. Num repente, sem pensar no que fazia, sua mão correu pelas costas dele, e lascou um beliscão em sua perna. Aureliano soltou um grito abafado, soltou a loira oxigenada e se virou pronto para brigar, quando deu de cara com Malu que sorria para ele. Desconcertado, sem saber como agir, ficou parado com a mão no ar, vendo Malu se dirigir à mesa dela. Teve a intenção em segui-la, porém a loira o segurou. Com raiva deu um safanão quase a derrubando e, tropeçando na indignação, chegou até a sua mesa. Correu o olho pelo ambiente. Não via a Malu. No entanto da sua mesa, Malu controlava todos os gestos dele.
- Agora, é só esperar mais um pouco e, o peixe estará fisgado, pensou ao pedir outra bebida.
Nisso o show foi interrompido.
- Por favor, atenção. Aproximem que vamos começar o sorteio dos brindes.
À frente do palco foi tomado pelo pessoal que ruidosamente entre gritos e assobios, reclamavam que já era hora.
Foi então, que Malu viu Aureliano se dirigir em direção ao toalete. Não perdeu tempo. Levantou, atravessou o salão e, alcançou Aureliano antes de entrar na ala masculina. Rapidamente o puxou pelo braço e, sem que desse tempo dele perceber o que estava acontecendo, arrastou-o para o banheiro feminino. Entrou com ele no box e trancou a porta.
Aureliano meio embriagado, com gestos lentos, mesmo assim notou que estava sendo conduzido. Não esboçou nenhum gesto, deixou-se ser levado. No box fechado, se entregou a luxúria feminina sugando todos os prazeres que o instante proporcionava. Revezaram-se nas caricias, ora um dominando, ora outra se entregando. Por sorte, durante o tempo em que ficaram no box, ninguém entrou no banheiro, o pessoal continuavam entretidos no sorteio que ainda se desenrolava quando, Malu sorrateiramente, saia do banheiro.
No dia seguinte, corria o boato que encontraram, Aureliano nu, procurando o carro no estacionamento vazio do restaurante.
13.11.06
pastorelli

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Brevidades

acolhido
em suas
entranhas

sinto
o calor
do mistério

somos
(de)feitos
de estrelas

nosso
brilho
é distante.

wilson guanais

Aceitação

Vem Amor
mas venha logo
venha agora

que tudo é tudo
e eu te espero
aqui:

na minha casa
na minha cama
na minha carne

- ou na sua.

wilson guanais

ciclo
mauricio rosa

há tempos revolvo meu desassossego
em busca do nada que tanto exaspera,
meço caos e dúvidas, palpo devaneios,
rumino o vazio da minha existência
a caça do nexo que molda meu ser...
há tempos me pego pajeando as noites
cofiando as dores tentando encontrar
nos escombros partes do mosaico o fio
que une as distâncias do meu caminhar:
esse hiato ambíguo sem viço nem par!
há tempos me cato pelos descaminhos
disseco silêncios contemplando o luar
e desiludido torno à mesma estrada
que ontem me trouxe onde estou e estás.

domingo, 22 de junho de 2008

24 – A Dama do Metrô.

O fim de ano estava chegando. A festa de confraternização já estava marcada. Malu se preparava cuidadosamente. Comprara um vestido para ocasião que, sabia, abafaria como todos os anos. O frisson entre as amigas, principalmente as fogueteiras, quebrava um pouco a rotina. Malu à distância, observava o comportamento, tanto das mulheres como dos homens. Via nisso tudo como escape da futilidade do dia a dia, uma fuga dos problemas, como se nessas festas, estivesse fazendo o quem bem quisessem. Muitos mostravam uma faceta que, durante todos os anos, estava escondida debaixo da máscara do bom comportado matrimonial como profissional. Ela sabia se portar, apesar de que às vezes, deixava sua compostura de profissional, e se soltava um pouco, mas nunca chegava às raias da loucura descontrolada.
Suas amigas apostavam que essa seria a oportunidade dela sexualmente conquistar Aureliano. Malu sorria sem opinar exatamente o que pensava. Isso desconcertava as amigas, pois entre elas, se não houve ainda uma concretização de conquista literalmente falando, algumas delas queria aproveitar a festa para abocanhar o coitado do Aureliano. Era uma pena não saberem decifrar o sorriso enigmático de Malu.
- O problema é delas e não meu, pensou Malu fechando o zíper da saia preta decotada.
Aureliano casado, pai, bom profissional, fora admitido há pouco tempo, com seu jeito espontâneo e bom falante, foi conquistando todo mundo, principalmente as mulheres. Tinha ouvido histórias sobre as festas de fim de ano da firma. E como todo macho que se preza, queria tirar sua casquinha também. Por isso, seu foco de atenção estaria inteiramente voltado para Malu. Confiante, foi para a festa preparado para o que desse e viesse.
Primeiramente, como todo o ano, Malu sentada à mesa do canto, observava o vai e vem do pessoal, dos garçons, dos boys, das moças, dos homens, o chefe, o subalterno, enfim, a movimentação geral. Saboreava lentamente a bebida quando notou Aureliano cumprimentando o pessoal. Elegante como sempre, esperou até que ele se acomodasse e depois do quarto copo de cerveja, além da caipirinha, foi que ela se levantou e passou perto dele.
- Olá, Aureliano. Boa festa, disse sorrindo maliciosamente.
- Malu... Boa noite, quer dizer, boa festa para você também, respondeu meio atrapalhado, não esperava a investida dela.
Os amigos começaram a debochar dele.
- Aí, hein! Danado, ganhou a noite!
- Olha tem um hotel aqui perto...
- Puxa! Ninguém até agora conseguiu levar Malu para cama. Será que você será o primeiro?
- Que isso, vocês estão enganados, sou casado..., gagueja Aureliano.
- Casado mas não capado, disse Ricardo que há muito tempo vinha saboreando uma conquista e não conseguia.
Malu notou a perturbação que causou em Aureliano. Jogara o anzol, agora era esperar o peixe morder a isca.

10.11.06
pastorelli

domingo, 15 de junho de 2008

23 – A Dama do Metrô.

Aureliano já estava no elevador quando Malu chegou.

- Oi, Aureliano, e, graciosamente se virou e apertou o número do seu andar.
-Oi, Malu, respondeu quase se engasgando.
Aureliano vinha há muito tempo cortejando-a, mas nunca tivera a oportunidade em abordá-la. Havia sempre um empecilho que atrapalhava. Tinha noção de que Malu notara sua intenção, e, percebera que ela sabia do seu intuito. Como diretora do departamento de marketing, seu horário era flexível, podia entrar e sair à hora que quisesse. Soubera por alto de sua voracidade sexual, mas nunca questionara abertamente a veracidade do boato. Por ser um funcionário de outro departamento, com um cargo abaixo do dela, não via chance em abordá-la. Mesmo assim, seu instinto lhe dizia para ser audacioso, pois mulher que se preza gosta de homens audaciosos. A única ressalva, era que ele não era audacioso, e, via na audácia um desrespeito à mulher. No entanto vendo-a sair do elevador, rebolando provocativamente, sabia que tudo isso seria irrelevante. Aureliano afrouxou um pouco a gravata e, fechou a porta da sala.
Malu por sua vez, em frente ao micro, pegou-se pensando em Aureliano. Bem apessoado, discreto – é o que parecia – educado, atencioso, não via nada que o desabonasse. Sabia ser fixado nela. Não só os seus olhos perceberam como as amigas já lhe disseram. Porém não queria se envolver com alguém do escritório, ainda mais um subalterno, e, pior, sua posição profissional estava abaixo dela. Orgulhosa, não se rebaixaria. Abrindo o Outlook sorriu levemente. Como não se rebaixaria? Se já foi para cama com cada sujeito bem mais baixo profissionalmente que Aureliano! Acontece que eram desconhecidos, não precisava saber da situação profissional de cada um. Era bem diferente. Ao passo que Aureliano ela conhecia, estavam sempre se cruzando pelos corredores. Poderia causar um constrangimento, tanto a ela como a ele, apesar de que não pensava sobre esse aspecto. Sabia do boato que corria sobre ela. Desde que fosse boato, tudo bem. Não há como comprovar um boato a não ser pego em flagrante. E até o presente momento, ainda não fora pega em flagrante. Levando Aureliano para a cama, ela estaria comprovando o boato, e, mais a mais, não podia confiar nele. Quem garante que ficaria só entre os dois? Ninguém! Como conhecia os homens, fuxiqueiros como eles são, assim que Aureliano a deixaria, contaria para todos que transaram, provando assim sua macheza, seu orgulho masculino.

Passando os dedos pelo teclado numa carta comercial, viu que tal possibilidade era provável de acontecer. Seus olhos brilharam alegres. Fixou sua atenção na carta e, carinhosamente guardou o plano que logo poria em prática.
- Aureliano, você que se cuide..., disse baixinho.
08.11.06
pastorelli

sábado, 14 de junho de 2008

surreal
para Frô


por que não velas as valas
e te esqueces das senzalas
- quereres nus sem mortalha -
onde enclausuram teus dias?
por que pavores recrias
se a manhã apascenta
teus passos e as nostalgias
esparramados no tempo?
por que sonhares distintos
se o teu é o que pressinto
no peito guardado há muito
- cheiro acre de absinto!
por que paixão sem pesares
se no recôndito dos mares
sofre a alma peregrina
ante o mundo por se ver?
por que se guardam poesias
voláteis dentro do nada
e o emasculado desejo
de ser um dia feliz
se breve a vida se escoa
pelo chafariz profundo
e leva os porquês consigo?

quinta-feira, 12 de junho de 2008

PLACA
Carlos Edu Bernardes
www.tempoessajanela.blogspot.com

abelhas de metal ziguezagueiam no fundo sujo do mar
pessoas, trilhas e asas
pairam sobre minha cabeça de fumaça
o céu diluído
meu coração doído
meu corpo doido
em busca do seu pomar

quem acelerou o relógio do coração da árvore?
eu me sinto mal
quando vejo que o planeta é apenas um negócio
onde gentes destroem florestas e águas
que poderiam recuperar o nosso amor

menina, jogue o que resta da sua biodiversidade sobre mim
.
.

Cadernos de Classificados

Urariani Mota, originalmente publicado em Direto da Redação
.

Nos jornais existe uma seção, um caderno que reflete melhor a sociedade que as notícias da primeira página. Os anúncios classificados, que se publicam ao fim das edições, revelam sempre uma pista segura de como age e anda o mundo.

Diferentemente da primeira página, que se faz ao gosto de quem organiza e hierarquiza os fatos de todos os dias, os anúncios publicados lá no último caderno se fazem conforme a gente da cidade, que em linhazinhas breves, em espaços curtos fala. Ali, quase toda a gente pede, oferece e propõe do jeito que as coisas e as pessoas são, ou melhor, revela-se no como gostaria que coisas e pessoas fossem. Numa palavra, compra-se, ou vende-se, conforme a natureza dessa gente.

O passar das páginas dos classificados são como o movimento de um avião que não levantasse vôo sobre a cidade, como um carro com asas que visse o conjunto de habitações sem que fosse preciso subir. Como o passar de carro por uma cidadezinha muito especial, lugar onde se mostram casas de todas as cores, tamanhos e arquitetura.

O mais engraçado, nessa cidade entrevista, é o corte bruto, sem consideração ou piedade para o sofrimento ou a alegria. É a passagem sem transição da mercadoria para o afeto da gente. Ali é o lugar de uma feira original, uma feira de tudo. Da mulher de que se necessita ao telefone que se vende. Do transplante de fígado, urgente, ao coração exposto, nu, sem pudor à luz do dia. Do engraçado, do cômico, ao Correio Sentimental na seção de Serviços Profissionais, vindo logo antes do Esoterismo/Místicos.

Nessa feira vai-se da tragédia ao prosaísmo, entra-se no amor e sai-se no eletrodomésticos, porque no espírito da página quem manda é a ordem alfabética. Os Produtos Gráficos se acham ao lado das Massagistas, ainda que estas não façam tatuagens, e os Telefones se vendem junto ao Som/Vídeo, mesmo que toquem uma só canção, mecânica.

Imaginem os leitores de hoje o mundo daqui a cem anos. Imaginem a humanidade, se existir, daqui a cento e cinqüenta anos. Então imaginem nossos descendentes, se vivos forem, imaginem se eles poderão entender os hábitos que éramos, se lhes mostrarem a primeira página dos jornais de hoje. “Popularidade de Bush cai”. Nossos futuros, se houver, perguntarão, quem foi mesmo esse vegetal pequeno que se apelidava de Bush? Imaginem agora o leitor que nos sucederá nesses futuros anos ao ler estas linhas:

PROCURO HOMEM – Sem compromisso, 38 a 45 anos, que ainda acredite no amor.

Haverá linha mais eloqüente que expresse, a nossos pósteros, que em 2008 houve uma vez uma mulher sozinha, sofrida, que procurava alguém que AINDA acreditasse no amor? O advérbio aí é mais substancioso que nossa transformação em pó. AINDA. Isso dirá que essa mulher já sofrera, já se magoara muitas vezes, mas que era possuída pela humanidade, que não desertara da esperança. E nos compreenderão, se viverem, se lerem, quando lerem:

TENHO 50 anos. Solteira, nível superior. Procuro pessoa livre, nível superior, de bons sentimentos, de 50 a 55 anos e acredite no amor, que tenha mente aberta e esteja também à procura de alguém para sincera amizade ou algo mais. Caixa Postal.....

Não importa se o anúncio quer o difícil, o quase impossível. Se quer um homem de 55 anos que não esteja casado, que não esteja farto de tudo, que assim não estando procure a mulher ideal, e para algo mais que a amizade. Não importa. Pois não houve uma vez um professor em Água Fria que aos 65 anos ainda buscava a namorada de infância? Então é possível.

Em nome da inteligência dos que nos vêm depois, nem precisamos comentar os classificados que se seguem. Eles falam por si, das taras, dos tempos e das transgressões. “Casada infiel. Ligue e confira!”. “Menina linda, rostinho de anjo e sorriso encantador. Uma colegial superdanada! Para maiores de 40...”. “Bruna - bela travesti brozeada para executivos”. “Tia & Sobrinha – Safadas e fogosas!”.... E como possível cura às frustrações dessas fantasias, uma nova, de certeiro homeopata: “Alberto – Resolve problemas amorosos.”

Os anúncios classificados, por serem comerciais, e porque vendem mercadorias, bem que poderiam ser lidos como um espelho invertido de desejos. De casas, de carros, de apartamentos, de objetos, de emprego, de sexo e de amor. De sonhos, de altos e baixos sonhos, do sublime e de quinquilharias. Feira da selva que legamos.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

fragrância
© mauricio rosa

o teu silencio vestia
completamente a angústia
apalpava-me os anseios
incitava devaneios
sujava o céu dos meus dias
e quando a lua sem brilho
anciã jazia oculta
por detrás do meu cansaço
balbuciava um segredo
cofiava o vão dos medos
e se deixava antever
nos desvãos da pradaria...

não que quisesse teu corpo
porque teu cheiro bastava!

terça-feira, 10 de junho de 2008

22 – A Dama do Metrô.

... descobria um mundo interminável de variáveis prazeres que nunca sonhara em ter.

- Por favor, pode dizer o seu nome, perguntou com o rosto afundado no travesseiro, fazendo sua voz soar meio abafada.
- Rodrigo.
- Malu, prazer Rodrigo.
- O prazer será somente nosso, Malu.
Sim, é isso, só nosso, pensou. Rodrigo tinha uma capacidade incrível de não se fazer sentir pesado, como tantos outros. Malu sentia-o totalmente e ao mesmo tempo era como se o corpo dele flutuasse acima do seu, apenas, ligado pelos desejos. Como agora, deitada de bruços, os corpos rangiam a cama num vai e vem frenético, sem ser violento, sem ser animalesco. Não quis dizer a ele, mas já chegara ao clímax duas vezes. Tinha que concordar, esse corpo franzino sabia do seu potencial. E esse potencial Malu acarinhava numa demonstração de afeto e prazer.
- Posso lhe pedir uma coisa? – perguntou Rodrigo.
- Sim, claro, pode.
Rodrigo encostou a boca no ouvido de Malu e sussurrou.
- O que?
- É, isso mesmo, você faz?
- Você quer que eu...
- Sim.
- Mas isso é perversão, quase gritou.
- Não vejo como perversão, vejo como uma solução para completarmos os nossos desejos. - Mas... Olha, Malu, não sei se você sabe ou não, mas entre quatro paredes vale tudo.
- Bom, é que eu...
- Nunca te pedirão isso?
- Não, que eu saiba...
- Vou lhe dizer outra coisa. Sei que você já gozou três vezes, enquanto que eu preciso disso para gozar, entende? Assim, eu gozo uma vez e você tem a chance de gozar mais uma vez.
- Está bem.
- Isso. Passe bastante vaselina e introduza bem devagar.
Malu, constrangida, passou bastante vaselina no dedo e introduziu dentro dele. Nesse momento, Malu sentiu uma vertente do amante que escondida veio à flor da pele. Rodrigo passou a gemer com sexualidade levando-a ao clímax compartilhando, os dois juntos, um orgasmo só.
Rodrigo que já vinha demonstrando respeito, carinho nos gestos, nas ações, na voz, passou a ser redobrado tudo isso num amalgama de luxúria desenfreada sem cair no furor animalesco que muitos homens, sem controle, se deixam levar desprezando o lado humano da pessoa.
Deitada ao lado desse corpo franzino, quase sem consistência, sentiu respeito, quase amor, mas refreou, pois não podia ser levada pelo seu sentimento. Vendo Rodrigo sair do banheiro pingando água, se envaideceu a tal ponto que uma lágrima correu por sua face.
- Aqui está o combinado, disse inclinando-se sobre seu rosto, beijando-a carinhosamente.
- Ta certo, disse Malu, querendo prolongar o momento, mesmo sabendo que não poderia.
Rodrigo saiu fechando a porta atrás dele. Malu se encolheu nos lençóis cheirando suor e desejo, e procurou dormir um pouco, guardando na palma da memória os momentos bons daquela noite.
06.11.06
pastorelli

íris
© mauricio rosa

eram meus teus olhos
de menina sobre
o silêncio exposto
e esse receio
cacoete antigo
centenário gosto
de criança pobre...

era meu teu rosto
carcomido eterno
no retrato posto
fincado no tempo
roto qual lamento
viandante e só!

nosso era o tempo
de cheiros e exemplos
que o sal lavou!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

21 – A Dama do Metrô.

Malu ergueu a perna e passou por cima da cabeça do amante que, aconchegou comodamente num fremir de desejos e gemidos. Malu não queria só proporcionar prazer, queria também que o parceiro proporcionasse a ela a satisfação que, se não fosse plena, mas fosse aprazível pelo menos. Por isso, se submetia aos caprichos dos amantes. Sendo assim, afastou as pernas e se entregou aos vitupérios da peçonhenta língua.
Por causa do feriado, o metrô estava praticamente vazio. Sentia um aperto constrangedor sem noção do que se passava com ela. Talvez por ver o pessoal de um lado para o outro carregando suas malas a fim de desfrutar o feriado prolongado. Tinha se preparado mentalmente para aquela ocasião, mas como sempre, o preparo não fora suficiente. Precisava ainda de muito esforço para entrar numa tranqüilidade zen e não se preocupar por não poder fazer o que desejava. Havia muito ainda para aprender.
- Desculpe.
- Não foi nada.
Assustou-se com o rapaz que entrando no trem esbarrou nela. Malu seguiu o rapaz com o olhar. Sorriu lentamente no brilho dos olhos castanhos escuros, sobrancelhas aparadas cuidadosamente, dentro de um rosto quase oval, sobrepondo a umas mexas de cabelo que teimavam cair sobre a testa. Retribuindo, o rapaz jogou de volta o sorriso.
Em certas ocasiões, Malu se entregava a ponto de, conscientemente, se desligar ao que se passava. Seu corpo estava ali aceitando sem reclamar os carinhos e gestos, às vezes, asquerosos dos parceiros, mas sua mente voava em horizontes mais confortador e aprazível. Aprendia rapidamente a técnica das prostitutas: entregava o corpo pelo sustento e, recolhia a alma para, se um dia surgisse, príncipe encantado.
Malu também tinha seus sonhos que eram naquele momento subjugados aos desejos da carne.
- Vamos mudar de posição, disse o amante em seu ouvido numa voz calma e profunda.
- Está bem, respondeu e virou-se de bruços.
Ao vê-lo dentro do terno azul marinho, gravata vermelha e camisa branca, Malu não dera muito valor ao corpo franzino do rapaz. Mas no aconchego dos lençóis...
03.11.06
pastorelli

terça-feira, 3 de junho de 2008

Matrimônio

Amanheceu o dia
e apesar da chuva
eu estava feliz

quis dividir contigo
e não te vi

pensei fosse a chuva
a te levar embora

então me lembrei

foi naquela madrugada
que nos perdemos
quando te viraste para o lado
(choravas)

e eu, de enfado
adormeci.

Asta Vonzodas



domingo, 1 de junho de 2008

poema - dança comigo



dança comigo


a música alta
no centro da pista

sua dança
movimenta meus ritmos
para a surdez
urgente

é preciso ouvir

seus cabelos
tocando os sons
de meus ombros

é preciso ouvir

suas mãos
esticando a melodia
de meus braços

é preciso ouvir

seus pés
vibrando a percussão
de minhas pernas

vozes de seus brincos
vozes de sua pulseira
vozes de seus anéis
vozes de seu vestido
vozes de suas sandálias

o desejo fala
quando você dança

meus olhos
sussurram
na sua cintura

toda música fica nua


AL-Chaer
Sinopse
Para AL Chaer

Sótão, não!
Nem tão só...
AL, sim

mauricio rosa