domingo, 15 de junho de 2008

23 – A Dama do Metrô.

Aureliano já estava no elevador quando Malu chegou.

- Oi, Aureliano, e, graciosamente se virou e apertou o número do seu andar.
-Oi, Malu, respondeu quase se engasgando.
Aureliano vinha há muito tempo cortejando-a, mas nunca tivera a oportunidade em abordá-la. Havia sempre um empecilho que atrapalhava. Tinha noção de que Malu notara sua intenção, e, percebera que ela sabia do seu intuito. Como diretora do departamento de marketing, seu horário era flexível, podia entrar e sair à hora que quisesse. Soubera por alto de sua voracidade sexual, mas nunca questionara abertamente a veracidade do boato. Por ser um funcionário de outro departamento, com um cargo abaixo do dela, não via chance em abordá-la. Mesmo assim, seu instinto lhe dizia para ser audacioso, pois mulher que se preza gosta de homens audaciosos. A única ressalva, era que ele não era audacioso, e, via na audácia um desrespeito à mulher. No entanto vendo-a sair do elevador, rebolando provocativamente, sabia que tudo isso seria irrelevante. Aureliano afrouxou um pouco a gravata e, fechou a porta da sala.
Malu por sua vez, em frente ao micro, pegou-se pensando em Aureliano. Bem apessoado, discreto – é o que parecia – educado, atencioso, não via nada que o desabonasse. Sabia ser fixado nela. Não só os seus olhos perceberam como as amigas já lhe disseram. Porém não queria se envolver com alguém do escritório, ainda mais um subalterno, e, pior, sua posição profissional estava abaixo dela. Orgulhosa, não se rebaixaria. Abrindo o Outlook sorriu levemente. Como não se rebaixaria? Se já foi para cama com cada sujeito bem mais baixo profissionalmente que Aureliano! Acontece que eram desconhecidos, não precisava saber da situação profissional de cada um. Era bem diferente. Ao passo que Aureliano ela conhecia, estavam sempre se cruzando pelos corredores. Poderia causar um constrangimento, tanto a ela como a ele, apesar de que não pensava sobre esse aspecto. Sabia do boato que corria sobre ela. Desde que fosse boato, tudo bem. Não há como comprovar um boato a não ser pego em flagrante. E até o presente momento, ainda não fora pega em flagrante. Levando Aureliano para a cama, ela estaria comprovando o boato, e, mais a mais, não podia confiar nele. Quem garante que ficaria só entre os dois? Ninguém! Como conhecia os homens, fuxiqueiros como eles são, assim que Aureliano a deixaria, contaria para todos que transaram, provando assim sua macheza, seu orgulho masculino.

Passando os dedos pelo teclado numa carta comercial, viu que tal possibilidade era provável de acontecer. Seus olhos brilharam alegres. Fixou sua atenção na carta e, carinhosamente guardou o plano que logo poria em prática.
- Aureliano, você que se cuide..., disse baixinho.
08.11.06
pastorelli

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