segunda-feira, 26 de outubro de 2009

66 – A Dama do Metrô.





Malu levantou a saia.

Em cima do caixote, com a saia levantada, deixou que o velho, de joelhos, cheirasse suas partes íntimas. Aquilo para ela não queria dizer nada, talvez para o velho poderia dizer muitas coisas, mas na sua meninice não entendia os adultos.

- Abaixe a calcinha, pediu o velho.

Abaixou a calcinha. Os olhos do velho brilhavam, aproximou o rosto, o nariz e exalou a essência odorífica de urina, de suor, proporcionando-lhe prazer. Malu quieta em cima do caixote, não via à hora do velho terminar com aquilo. Quando o velho saiu, entrou o irmão.

- Pronto, aqui está o dinheiro desse velho nojento para você comprar o seu sorvete.

Radiante, Malu correu até a sorveteria e comprou o sorvete de sua preferência.
Isso já vinha há tempos acontecendo. O irmão um dia chegou para ela e disse.

- Malu, entre aqui e faço tudo o que o senhor mandar. Depois eu te pago um sorvete. Mas tem uma coisa, se você contar para a mãe, você apanha de mim e não tem mais sorvete.

Obedeceu. Ganhou o sorvete. Não disse nada para a mãe.
Transcorreram os dias, os meses, os anos, quando ouvia o irmão gritar seu nome, ela já sabia. Entrava no barracão e deixava o velho bolinar suas partes intimas. No começo era apenas o Seu Jorge, depois começaram aparecer outros senhores que ela não conhecia.

Quando Seu Jorge encontrava com ela acompanhada da mãe na rua, ou no armazém, onde fosse, carinhosamente ele dizia para a mãe.

- Que menina linda que a senhora tem. Filho é uma dádiva, não é?

A mãe concordava.

- Vem cá, menina, deixei lhe dar um beijo nessa bochecha fofa. Toma, compre um sorvete para você.

Mas um dia, o irmão gritou o seu nome.

- Malu!

Ela entrou no barracão. Não tinha ninguém. Logo apareceu o irmão.

- Hoje é minha vez, disse ele.

Malu desceu do caixote e disse.

- Você vai pagar?

- Como te pagar? Sou teu irmão.

- Mas tem que pagar.

- Larga de ser boba, vai levanta a saia e abaixe a calcinha.

- Nada feito. Paga.

- Não vou pagar.

- Bom, então vou contar para a mãe.

E saiu correndo chamando a mãe.

- Mãe, gritou.

- Não, espere, vem cá, eu pago. Está aqui o dinheiro.

- Tudo bem, disse subindo no caixote e levantando a saia.

A partir desse dia, Malu soube que podia controlar o irmão. Conforme crescia, começou a entender o mecanismo da vida. Deixava que o irmão, um idiota, na sua opinião, pensar que ainda a dominava. Porém, um dia ela disse para ele.

- Chega desses velhos nojentos. A partir de amanhã vou querer homens mais novos, senão a mãe vai ficar sabendo de tudo.

Ela já estava com catorze anos, nessa época, o irmão com cara de sonso, percebeu que não tinha mais poder sobre ela. Assim, foi colocado de escanteio, e a partir daquele dia, Malu deitou e rolou no pequeno barracão.

Apagou o cigarro no cinzeiro já cheio de pontas de cigarro. Girou o corpo, no mesmo instante que o rapaz saia de cima dela. Com as costas apoiadas na cabeceira da cama, esperou que o rapaz se limpasse no banheiro.

- Até que ele é apresentável, bonito, pensou.

Nisso o rapaz voltou e se vestindo perguntou.

- Quanto é?

- Trezentos reais.

- Puxa!

- Foi o combinado.

- Tudo bem, valeu, você foi ótima.

O rapaz saindo, Malu levantou, guardou o dinheiro na bolsa.
Pouco tempo depois, ganhava a rua, tomou um táxi e se dirigiu para o escritório.

Pastorelli
26.04.07

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Faz tempo

Faz tempo não te escrevo.
Faz tempo não te vejo,
faz tanto tempo que
nem sei mais se te desejo.

Não faz muito que ouvi tua voz novamente,
e quase não a reconheci,
fazia tanto tempo o silêncio.

E foi tão breve e calou-se repentino
que pensei ser apenas ecos de um pensamento.

Faz tempo...
Tanto tempo, que até a saudade
cansou-se do lamento.

Asta Vonzodas

domingo, 11 de outubro de 2009

65 – A Dama do Metrô




- Bem o que eu tenho... Você já conseguiu neste momento – pensou olhando para o teto enquanto fumava o seu cigarro.
Deitado ao lado dela, nu, todo satisfeito, o rapaz dormia um sono tranqüilo abraçado a ela. Malu pensou que apesar da idade do rapaz, fosse ele afoito, como se fosse pela primeira vez ao pote beber água, mas se surpreendeu pela tranqüilidade dos movimentos surpreendentemente carinhosos.
- O meu nome...
- Não, não diga o seu nome, não vamos estragar nosso prazer, pois não sabendo o teu nome não corremos perigo de estarmos transando com um conhecido, entende?
- Não, não entendo.
- Bom deixa pra lá, pois essa minha teoria está furada, pois você já sabe o meu nome.
- Sim, mas ele pode ser falso, nome de guerra.
- O meu se manca, quem tem nome de guerra é prostituta, eu não sou prostituta.
- Tudo bem, não se grile, vem aqui sentir meus beijos ansiosos para conhecer esse teu corpo formoso e gostoso.
E a envolve-a num longo e quente abraço. Um cansaço dominou sua mente. Sentia-se velha, precisava parar com as aventuras inconseqüentes, dar um tempo ao tempo. Levantou-se, no banheiro se lavou, trocou de roupa. O rapaz ainda dormia despreocupado.
- O amoreco, levante, vamos.
- O que foi?
- Levante, saia, vá embora, preciso trabalhar.
Lentamente, o rapaz catou as roupas e entrou no banheiro. Ouviu o barulho do chuveiro e uma voz forte cantando alegremente.
- Gente jovem está sempre contente – falou para o seu reflexo no espelho.
Minutos depois, o rapaz todo refrescado sai do banheiro.
- E aí, gostosa, nos veremos novamente?
- Que gostosa que nada, vá embora, se eu sentir saudades de você sei aonde procurá-lo, agora vai embora, por favor.
Empurrou o rapaz para fora do apartamento. Fechou a porta e se jogou no sofá. Acendeu outro cigarro, jogou a cabeça para trás, fechou os olhos e desejou ficar imóvel para o resto da sua vida.

15.02.07
pastorelli