segunda-feira, 28 de julho de 2008
30 – A Dama do Metrô.
Selene se aborrecia. Quantas vezes tivera de contar o que lhe acontecerá e, quantas já dissera que não se importava, que estava tudo bem, que não queria saber quem fora ou por que fora. Fisicamente nada lhe acontecera, e, também reconhecia, que interiormente estava tudo bem. Então porque as pessoas têm que ficar fuçando o alheio. Querendo saber isso e aquilo? Seu chefe por exemplo. Queria por que queria que ela lhe dissesse como fora cair numa armadilha dessas? Que se fosse com ele colocaria os culpados na cadeia ou, então, processava por danos físicos e morais. Não sabia todos os detalhes, dizia, para não se comprometer mais ainda.
Enquanto tomava o café na lanchonete do prédio, viu Aureliano e Malu entrarem. Ali estavam os culpados, falou seu intimo, os culpados que revelaram a ela uma parte que ela não conhecia. Quanto a isso poderia dizer até que era grata a eles, colocaram a flor da pele o escondido, o sórdido prazer de ser levada a se satisfazer com o mistério, com o perigoso, com a fantasia roçando o abismo do prazer. Sabia que a partir daquele dia em diante, se reconhecia outra pessoa. Se dissesse que estava contente consigo mesma, ninguém acreditaria, a julgariam louca, que precisava de psiquiatra. Talvez até estivesse, mas era uma loucura saudável, com uma pitada de masoquismo. Terminou seu café, colocou a xícara no balcão e passou rente aos dois, e, sorrindo cumprimentou:
- Olá, como vão os dois. Vendo vocês dois juntos até parecem que estão de namoro.
Viu no olhar o assombro dos dois. Malu e Aureliano realmente não esperavam tal atitude dela, mas também não podiam deixar que Selene suspeitasse deles, por isso, com um sorriso desconcertante, retribuíram o cumprimento da melhor maneira possível. Caso Selene desconfiasse deles, não veria toda sorridente cumprimentá-los. Concluíram então que Selene nada suspeitava deles. Sorriram um para outro satisfeito. No entanto Selene tinha certeza, principalmente depois do seu cumprimento ao vê-los surpreso com sua audácia.
- Realmente foram eles e, não os culpo, quiseram vingança, conseguiram, mas quem saiu ganhando foi eu e não eles. Eles vão continuar na mesma vidinha fútil de sempre, enquanto eu ganhei com a descoberta de mim mesmo, com a descoberta do meu interior.
Rodou a enorme cadeira e descortinou a sua frente, a cidade, a enorme cidade que, do vigésimo segundo andar, dava a ela uma ampla visão de edifícios e mais edifícios. Gostava da cidade, gostava de vê-la aos seus pés, dando-lhe o poder que não tinha. Fazendo-a se sentir superior humilhando quem a humilhava. Levando a mente num ponto de equilíbrio relaxado, começou a retroceder o pensamento até os acontecimentos fatídico que revelou a ela uma outra mulher.
23.11.06
pastorelli
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