domingo, 21 de setembro de 2008

35 – A Dama do Metrô


Malu soltou os nervos que, relaxados se acomodaram uns aos outros. O que poderia fazer para que os instantes tornassem reais, menos fantasiosos? Teria apenas que agir dentro do padrão da normalidade em que a sociedade aparente ditava as ordens. Agia aos olhos alheios trajando toda a burguesia acumulada desde o berço. Sua intransigência levava-a ousar momentos que nunca pensava ousar. Num movimento despreocupado, jogou os cabelos para trás, sentou em frente ao micro e se pôs a trabalhar, colocando de lado suas fantasias e dúvidas sexuais.
Deitada, olhava o teto branco. A fumaça do cigarro se evaporava no ambiente quente do quarto. Soltou um suspiro baixo, sendo ouvido apenas por seu coração que batia lentamente angustiado.
Apagou o cigarro no cinzeiro em cima do criado mudo inundado de copos, maço de cigarros, isqueiro, garrafas de uísque, e se virou para o lado do companheiro.
Valdo dormia respirando sossego, pouco se importando com ela. Malu queimava de desejo na manhã que aos poucos se punha entre as persianas revelando os raios de sol. Num único gesto leve, descobriu o corpo do amante. Apesar da idade, talvez mais de sessenta anos, Valdo tinha um físico desejável. A principio Malu se encantou com ele. Vendo-o nu sob seus olhos, ficou perguntando a si mesma o que tinha de tão especial? Talvez a penugem branca do peito descendo pela barriga ainda rígida e inundando a virilidade que, neste momento, imóvel trazia um certo aspecto de mistério.
Brincando sem um motivo aparente, Malu segurou entre seus dedos finos e longos, de unhas pintadas, bem cuidadas, o mistério que a encantava. Como não demonstrasse nenhum impulso elétrico, levou-o à boca e levemente comprimiu os dentes. Nada aconteceu. Sem pensar nas conseqüências, comprimiu com mais força, até sentir os dentes penetrar na carne mole. Valdo despertou com um grito.
- Merda! O que você está fazendo? Quer me capar?
E correu para o banheiro com a mão entre as pernas. Abriu o chuveiro e deixou a água fria aliviar a dor na tentativa em estancar o sangue.
- Filha da puta. Está pensando o que? – gritou.
Não ouviu resposta.
Sentado na banheira, bem embaixo do chuveiro, não sentindo mais dores, recebeu Malu que nua, entrou e sentou em seu colo.
- Como você é louca, sussurrou no ouvido de Malu.
E mais uma vez, se entregaram ao impulso que os unia: o prazer de sentir o desejo trespassando suas carnes unidas.
14.12.06
pastorelli

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