Como prometido, Brunildo telefonou. Distraída, se sobressaltou ao ouvir a campainha do telefone. Não pensava em Brunildo. Esquecera-se do combinado. Atendeu ao telefone com uma certa ansiedade que não lhe era característica.
- Alo?
- Malu?
- Sim.
- Brunildo.
- Sei, como está?
- Bem e você?
- Bem também.
- Isso é muito bom.
- Você acha?
- Acho.
- Olha que tal jantarmos hoje?
- Por mim tudo bem.
- Às sete horas te pego, certo?
- Combinado.
Da mesinha que ele lhe reservou, Malu observava o vai e vem frenético da cozinha. Brunildo comandava como regente erguendo sua batuta, ora pedindo com delicadeza, ora exigindo sem antes saber a causa do por que exigia. Malu riu. Lembrou de uma peça teatral que assistira há muito tempo chamada A Cozinha. Eram mais ou menos trinta atores em cena. E se não estava enganada, Juca de Oliveira, personagem principal, era o chefe da cozinha. Como agora Brunildo. Só que havia uma diferença grande e peculiar entre Juca de Oliveira e Brunildo. Juca interpretava um personagem, não era ele; por outro lado, Brunildo podia até estar encenando para ela, porém aos olhos de Malu, Brunildo estava interpretando ele mesmo, personagem real, de olhos verdes, ombros largos, gestos decididos, estatura mediana, cabelos encaracolados encobertos pela touca de cozinheiro. Malu se encantava. Volta e meia, Brunildo arranjava um tempinho. Sentava ao seu lado e, nesses momentos, só tinha olhos para ela, dirigindo-lhe frases carinhosas e cordiais. Quando interrompido, pedia licença, e corria verificar, às vezes um deslize de alguns dos garçons, ou mesmo de seus ajudantes, ou algo que faltava complementar em algum prato. Mas fazia isso tudo com dedicação, sem alterar a voz, porém impondo sem que nenhum dos seus comandados se sentissem humilhados. Havia um entendimento entre eles que não precisava esclarecimentos. Brunildo sabia se impor e, seus empregados, entendiam o que precisavam fazer. Assim a cozinha funcionava maravilhosamente.
03.01.07
pastorelli
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