terça-feira, 27 de janeiro de 2009

47 – A Dama do Metrô


Dois dias levou ele para responder. Dois dias em que Malu ficou imaginando coisas que, sabia, talvez não aconteceriam como foram imaginadas. Mas só de ficar imaginando já lhe proporcionava um prazer imenso. Achava até que se prolongasse mais um pouco, talvez uma semana, quando se encontrassem seria espetacular. Porém, foram apenas dois dias. E o que ele responderá confirmava a expectativa dela.
- Tenho muito mais que um perfume para você sentir.
- Não sei se devo, nada sei de você.
- Te garanto que não vai se surpreender e, lhe digo mais, vai gostar.
- Não sei não, fiquei com um certo receio.
- Mas do jeito que você entrou dentro de mim com seu olhar, é difícil de acreditar, não acha?
- E qual a sua intenção?
- Te beijar, te cheirar e se deixar... transar loucamente com você.
- Nossa! você é direto.
- Você perguntou...
- Onde você mora?
- Isso é o menos importante, não acha?
- Concordo, mas para gente apenas se situar no espaço. Que tal um chopinho no final do dia?
- Não bebo.
- Eu bebo o chope por você.
- Está bem... onde nos encontramos?
- No café que tem no térreo, como nos conhecemos não precisa dizer como está... e depois a gente vai para onde você quiser, certo?
- Tem estacionamento? Estou de carro.
- No subsolo.
- Então te vejo mais tarde, beijos virtuais, porque mais tarde vou te entupir dos beijos reais.
- Ua, que delicia, fiquei com medo.
- Não tenha não, eu não mordo dolorido.
- Até mais tarde então.
11.01.07
pastorelli

domingo, 18 de janeiro de 2009

46 – A Dama do Metrô


Malu mais uma vez contava com o atraso. Não o atraso do metrô, mas dela que, quase sempre, custava a se levantar. O que não queria dizer que isso a deixasse de mau humor, não, porque por outro lado poderia lhe acontecer mil coisas. No aperto costumeiro das manhãs, Malu procurou ficar numa posição sem ser incomodada e muito menos incomodar os outros. Na sua frente estava um Zé ninguém grandão, parecendo mais armário do que propriamente gente, que a deixava numa situação desfavorável. Devido a isso, não notou o rapaz ao lado dela observando-a atentamente. Fixou seus olhos nos olhos dele provocando assim um ligeiro desconforto no pobre do rapaz que foi obrigado a desviar os olhos.
Tentando se esquivar do armário que a empurrava para traz, por momentos Malu esquecera do rapaz. Quando deu por si, sentiu como se ele estivesse cheirando seus cabelos pretos (ou morenos, não lembro?), ainda bem que ela tem o costume de perfumá-los. Nisso o metrô para entre as estações por mais de quinze minutos, o que deixa, tanto ela como o pessoal, meio irritados. Quando o metrô começou a se movimentar e, talvez vendo que ela fosse descer na próxima estação, o que não estava ele errado, disse-lhe ao ouvido:
- Daria tudo para sentir esse seu perfume novamente.
Ao que ela sem pestanejar respondeu:
- Tudo mesmo?
Ele riu e disse meigamente:
- Depende do seu tudo, e ao mesmo tempo colocou nas mãos de Malu um cartão, me liga e verá...
Descendo no seu destino, Malu ficou por um bom tempo vendo-o desaparecer nos umbrais escuro do metrô com o cartão dele nas mãos. Por fim, guardou-o na bolsa e se dirigiu para a escada rolante.
Confortavelmente sentada em frente ao computador, Malu pensava, por fim, retirou o cartão da bolsa, abriu o Outlook e escreveu.

- Você sentiu o meu perfume, mas não pude sentir o seu, e clicou em enviar.
Levou quase dois dias para ele responder.
- Tenho muito mais que um perfume para você sentir
10.01.07
pastorelli

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

45 – A Dama do Metrô


A música fazia com que seus dedos pressionassem as teclas da carne, levando-a a lugares onde o desejo foi um ponto forte concentrado e magnético. Foram momentos que não sairiam mais de sua mente. Por isso, atento ao compasso da melodia, sorvendo bem devagar o uísque com gelo, estirada na paz, fez com que se sentisse privilegiada, porém tinha uma pequena noção que isso seria por pouco tempo. Aquela noite dormiu o sono dos justos, pensou.
Na manhã seguinte, atendendo ao terrível som do rádio relógio, Malu se levantou. Foi até o banheiro para as necessidades matinais, escovou os dentes, penteou os cabelos, e, se achou bonita. Escolheu um traje preto que lhe cabia bem, sempre gostou do discreto, mesmo que às vezes a ocasião não fosse apropriada. Continuava ainda com a sensação dos últimos momentos.
Malu trazia, como mapa impresso na pele, todos os instantes sexuais da sua vida. Cada pedaço do seu tecido vibrava as ocasiões intensas em que fora, por momento, realizada. No entanto, algo lhe dizia que havia ainda, por mais que quisesse, um pedaço do seu ser que sempre estaria reclamando sua atenção. Ela não podia deixar que essa parte sua estivesse sempre reclamando, tinha que satisfazê-la mesmo que, com isso, se tornasse sua ruína. Malu deu de ombros.
Olhou o relógio, merda! Estou atrasada, gritou o seu eu interior. Numa rapidez ajeitou a saia, pegou a meia fina, sentou na cama, ergueu o pé sobre o joelho direito quando, sua unha comprida, fez um tremendo furo na meia. Puta que pariu, berrou em voz alta. O que faço? Resolveu, calçou o sapato sem a meia, pegou as chaves da casa e saiu apressada.
No ponto, enquanto esperava o ônibus, reconheceu, decididamente hoje estou atrasada.
09.01.07
pastorelli