terça-feira, 6 de janeiro de 2009

45 – A Dama do Metrô


A música fazia com que seus dedos pressionassem as teclas da carne, levando-a a lugares onde o desejo foi um ponto forte concentrado e magnético. Foram momentos que não sairiam mais de sua mente. Por isso, atento ao compasso da melodia, sorvendo bem devagar o uísque com gelo, estirada na paz, fez com que se sentisse privilegiada, porém tinha uma pequena noção que isso seria por pouco tempo. Aquela noite dormiu o sono dos justos, pensou.
Na manhã seguinte, atendendo ao terrível som do rádio relógio, Malu se levantou. Foi até o banheiro para as necessidades matinais, escovou os dentes, penteou os cabelos, e, se achou bonita. Escolheu um traje preto que lhe cabia bem, sempre gostou do discreto, mesmo que às vezes a ocasião não fosse apropriada. Continuava ainda com a sensação dos últimos momentos.
Malu trazia, como mapa impresso na pele, todos os instantes sexuais da sua vida. Cada pedaço do seu tecido vibrava as ocasiões intensas em que fora, por momento, realizada. No entanto, algo lhe dizia que havia ainda, por mais que quisesse, um pedaço do seu ser que sempre estaria reclamando sua atenção. Ela não podia deixar que essa parte sua estivesse sempre reclamando, tinha que satisfazê-la mesmo que, com isso, se tornasse sua ruína. Malu deu de ombros.
Olhou o relógio, merda! Estou atrasada, gritou o seu eu interior. Numa rapidez ajeitou a saia, pegou a meia fina, sentou na cama, ergueu o pé sobre o joelho direito quando, sua unha comprida, fez um tremendo furo na meia. Puta que pariu, berrou em voz alta. O que faço? Resolveu, calçou o sapato sem a meia, pegou as chaves da casa e saiu apressada.
No ponto, enquanto esperava o ônibus, reconheceu, decididamente hoje estou atrasada.
09.01.07
pastorelli

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