sábado, 26 de setembro de 2009

64 – A Dama do Metrô




Malu olhou pela janela. O dia parecia ser o mesmo de sempre. Pacato naquela parte do dia em que ela, paciente, esperava o que fazer. Olhou por cima do ombro. Seu criador absorto numa contemplativa introspecção, não percebia o tédio em que ela se encontrava.

- Droga! Esse merda precisa de uma injeção de inspiração. Acho que vou acabar morrendo neste mísero quarto que nem sei se é de hotel ou o meu próprio. O pior que sendo eu uma personagem criado pela imaginação dele, não poderei sair daqui e lhe dar uns cascudos no pé da orelha. Que droga, ser personagem de escritor medíocre é foda. Mas tudo bem, vou apreciar essa paisagem falsa que ele colocou no cenário.

Assim Malu apoio seus cotovelos no peitoril da janela do décimo segundo andar, e se interiorizou na calma do teclado imóvel onde, os dedos longos e feios do seu criador, pousavam a espera de inspiração.

Nisso, ouviu a campainha da porta.

- Quem será? – perguntou olhando para cima como se interrogasse o seu criador.

– Que merda, que você está aprontando comigo?

Receosa abriu a porta devagar o suficiente para ver quem era.

- Pois não?

- Aqui é que mora a Malu, A Dama do metrô.

- Bom, eu sou a Malu, mas desconhecia ser A Dama do metrô.

- É que me mandaram entregar isso para a senhora.

- Senhora não, senhorita faz favor.

- Desculpe, senhorita.

Malu olhou bem nos olhos do rapaz, isto é, o que via do rapaz.

- Ah! Porque não é o entregador de pizza – falou lembrando do moreno entregador de pizza – é pena que não gosto muito de pizza, não é?

Como o rapaz desconhecia do que se tratava, permaneceu calado tendo na cara a feição do tédio em que se encontrava a sua vida.

- Não quer entrar?

- Obrigado.

- Um minuto.

Malu depois que o rapaz sentou no sofá amarfanhado de seus contornos, se afastou. Depositou o pacote em cima da mesa.

- Não quer tomar alguma coisa?

- O que a senhorita tem para me oferecer?

Eita, o rapaz é afoito, não lhe deram educação, não? – pensou olhando-o bem nos olhos.

- Bem o que eu tenho...

14.02.06
pastorelli

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

63 – A Dama do Metrô.



Malu desligou o telefone. Estava chateada. Encolheu-se dentro do mal estar que sentia. Colocou a mão entre as pernas nuas raspando nas fibras da calcinha e deitou a cabeça no braço da poltrona. Procurou se recolher na exaustão ocorrida nos últimos dias. Olhou para o teto da sala, fixou o olhar num ponto, começou a contar lentamente ao compasso da respiração. Queria relaxar totalmente, ficar solta, livre de qualquer empecilho. Fechou os olhos e conduziu os pensamentos em sua atitude.

Eram válidas? Sim, eram, e porque não? Válidas porque satisfazia seu ego sexual ao mesmo tempo em que a deixava aberta a novos conceitos e aventuras. Mas tal atitude a engrandecia? Sim e não. Em certos momentos sim, e outros não. Como o caso Ronildo. Tudo bem, que ela seja liberal a ponto de aceitar experiências que nunca pensara aceitar. Contudo, Ronildo foi deselegante por não satisfazê-la como queria. No entanto não percebia que, querendo intensamente a satisfação própria, nunca conseguiria ser completamente satisfeita. Tinha que, primeiramente, se regalar com os pequenos detalhes que lhe eram sorvidos, como conta gotas, do que ingerir de uma vez. Satisfazendo é que seria satisfeita.

Talvez Ronildo ainda pudesse conceber-lhe em seu interior alguma valia! Talvez, pensou ao sentir a quentura da sua mão bolinando suas coxas. No afago da tarde morna, por causa da chuva, a trepidação pulsando sua carne, levo-a para mundos imagináveis a ponto de rasgar a lucidez. Num suspiro louco, afrouxou a carne sobre os ossos, se entregando ao prazer dos seus dedos malignamente prazerosos.

Instante depois soltou um aí profundo, manchada de suor que a deixou languidamente esbaforida e satisfeita, com as pernas abertas, e um sorriso confortador nos lábios.

Logo em seguida adormeceu satisfeita sem pensar em mais nada.

12.07.07
pastorelli