terça-feira, 10 de novembro de 2009
67 – A Dama do Metrô
A manhã transcorria normalmente se apresentava aos olhos sensíveis da menina que já estava com dezesseis anos, todo o esplendor da primavera que radiava na forma do sol esturricando casas, ruas, plantas e pessoas.
Malu de shorts curto, com a blusa apenas amarrada às pontas sem abotoá-la, com uma das pernas jogadas por cima do braço da poltrona, com um copo suculento de sorvete, o qual saboreava bem devagar, tinha os olhos presos na televisão num filme para adolescente.
Sua pele amorenada deixava transpirar o odor juvenil doce e refrescante, os quais mexiam com a libido de qualquer um.
Nisso sem perceber, seu pai entra na sala.
- Ola, Malu.
- Oi, pai.
Malu olha despreocupada para o pai que senta numa poltrona a sua frente. Cabelos ainda pretos, começando a ficar grisalho, com um corpo atlético sem ser sarado, representava sem tirar nem por o velho que não queria envelhecer.
- Eu sei... , gaguejou seu pai.
- O que sabe, pai?
- O que você faz no barracão quase todos os dias.
- O que?
- É eu sei. Não tinha a certeza, mas hoje tenho a absoluta certeza.
- Do que? Do que o senhor está falando? – rispidamente perguntou levantando-se da poltrona e pondo-se em guarda.
- Do que se passa naquele barracão quando eu e sua mãe saímos para trabalhar.
- Ora, e daí, o que o senhor tem com isso?
- O que eu tenho com isso é que você é minha filha e não quero você rolando com qualquer um.
- Ora velho, eu faço o que eu quero...
- Pode fazer o que você quiser, mas não na minha casa.
- Ela é sua como ela é minha casa também.
- Escuta aqui sua vadia, prostituta, se quiser ficar aqui tem...
- Tem o que?
- De fazer o que eu quero.
- Ah! Revelou-se, seu incestuoso, há muito tempo vejo seu olhar cobiçoso em minhas pernas, velho safado.
- Escuta aqui, sua desgraçada – ao mesmo tempo em que falava, levantou-se e pegou Malu pelos cabelos forçando-a a inclinar a cabeça para trás, beijando-a na boca – se quiser ficar aqui vai ter que dar para mim também.
Desvencilhando-se das garras do pai, Malu cuspiu várias vezes como se quisesse arrancar a quentura dos lábios paternos sem conseguir.
- Nunca! – gritou – Nunca, prefiro morrer a dar para o senhor, velho cretino, safado.
Num gesto inesperado sua boca recebeu a mão do seu pai, jogando-a no sofá onde ficou chorando por longo tempo, ao mesmo tempo ouviu a porta da sala sendo fechada violentamente.
Apenas o choro e o som da televisão se fez ouvir e nada mais.
Malu apagou o cigarro no cinzeiro já cheio de pontas de cigarros. Passou as mãos nos cabelos fartos. O escritório estava silencioso. Fechou o Word, desligou o micro, levantou-se pegando a bolsa e se dirigiu ao elevador.
- Será que alguma editora estaria interessada na minha história? Se fosse nos Estados Unidos onde se publica qualquer porcaria, eu já estaria rica, já teria publicado uns três livros. Mas aqui, é uma merda.
21.06.07
pastorelli
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