segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Palavreando a Vida

Desde ontem fiquei com vontade de mostrar a vocês uns escritos de um grande amigo.
Amigo que conheci nos idos de 1998 de um modo casual, em que a Teia teve muito a ver com o fato.

Ele escrevia pra uma revista eletrônica publicada no antigo ZAZ., onde, por acaso, li um texto chamado Oito Segundos...

Eu fiquei tão zangada que de imediato enviei um e-mail agressivo, malcriado para o autor, que intuía ter feito a barbárie que contava no texto.

Não esperava nenhuma resposta, mas na mesma noite recebi um e-mail igualmente malcriado. E foi assim com malcriadeza que começamos a nos corresponder, primeiro por e-mail particular, depois pelo icq e através dos grupos.

Grande pescador, tivemos grandes discussões a respeito. A bem a verdade continuo sem saber distinguir um dourado de um tucunaré, que pra mim é tudo peixe e deveriam ficar nas águas nadando...Nada de pesca por diversão. Nem preciso dizer que isso o tirava do sério.

Wilson Morais, pessoa incrível, amigo, irmão, verdadeiro, de quem tenho muita saudade....

beijo
Taís


Taís: Os folgados
Tuesday, April 15, 2003 7:53


Cara Taís:
Tô por aqui, amoitado, como sempre devo
estar. Mas corujando. Ando na voragem, sem espaço em minha agenda de
sem-que-fazer. Arrumei tanta coisa pra não fazer, que não me sobra tempo pra mais nada.
Gostei de suas observações sobre esse negócio de não dar mais pra
gente ir ao cinema, por causa dos folgados, do senducacionismo que impera
pela aí em fora. Isso vem do berço, neguinho devia aprender em casa, e os
pais é que são os mais culpados nessa história, pois que não impõem limites
aos rebentos, deixam-nos achar que o mundo gira em torno deles.
E a coisa não tende a melhorar. Esse comportamento espaçoso se espalha por
toda parte. É no cinema, na escola, no trânsito, no supermercado, na rua,
enfim. E já se notam gerações mais maduras com esse deplorável defeito de
fabricação. A sucessão vai ser cada vez pior, é claro.
É por essas e outras que eu fico entocado em minha caverna. Eu não suporto
gente folgada, eu penso em dar tiros, me vem um gosto de sangue na boca,
meus ancestrais carroceiros e paraibunais rebrotam e eu não me contenho não.
Então eu evito aglomerações.
Dia desses, por engano, entrei num supermercado em que havia uma liquidação.
Vigimaria! Levei bundada de tudo que é gorda que havia, levei cotovelada,
fui xingado. Aquilo era pior que Bagdá! Feras enlouquecidas!
Eu sobrevivi porque felizmente apliquei uns golpes bem
colocados numa gorda e consegui sair do rolo usando um carrinho como
escudo. Senão, minha amiga, não tava aqui pra contar a história! Deus me livre!
Nunca mais!
Mas me lembro duma cena exemplar acontecida aqui no Bar do Pinga. Neguinho
que não era habitué do pedaço chegou voluntarioso, tava passando jogo na
tevê. Ele se sentou confortável, esticou uma perna por sobre outra cadeira e
sem nem olhar gritou:
-Ô meu, me traz aí uma cerva, supergelada e rapidinho!
O Bar do Pinga é um lugar meio ruim pra saúde de
nego folgado, reduto de gente braba, que convive numa paz quando muito de
Oriente Médio, cada um na sua, e deixa viver ou morrer. Caso contrário, a
jiripoca pia mesmo.
Claro, de vez quando, estoura um tiro, uma facada, um arranca-rabo, mas
coisa que se controla, um e outro morto mensal, algum ferido grave. Mas tudo
tá dentro da média estatítisca nacional.
O Pinga é a paciência escrita, a calma, no seu jeito de Ghandi. Desses que
engana a gente. Foi atender o freguês.
-Pois não?
-Tá surdo, meu? Já pedi cerva, vá buscar!
Eu conheço o Pinga de longa data, e sei que quando ele pisca duro
alguma coisa vai pegar feio. Eu fiquei pronto prum revira, que vinha
coisa. O Pinga respicou umas três vezes, o povo já se pôs de lado, deixando o
jogo na tevê. Aquilo foi silêncio de pegar com a mão, tensão de pênalti em
final de segundo tempo em jogo empatado.
-O cavalheiro poderia me fazer
uma gentileza? - disse o Pinga com seu jeito indiano.
-Quié, meu? Vá buscar a cerva!
-Poderia tirar sua pata de minha cadeira e enfiar ela na
BUCETA de sua mãe?
E já foi pegando o fulano pelo cangote e jogando na
rua. O povo só assistindo, aquilo tava atrapalhando o jogo. Alguém
tomasse providência, ou todo mundo batia no cara.
É, com o Pinga não tinha meio termo, não. Ele era assim, arrancado o pino,
explodia, feito granada de mão.
O cara bateu o pó das calças e se mandou ligeiro, sumiu de olho
arregalado, nunca mais seria visto no pedaço.
Pinga, enfadado, a balançar cabeça, resmungando:
- Ah! educação! É o que falta a essa
juventude.... Aqui tudo é gente fina, e eu faço questão de preservar assim.
E o movimento voltou ao que era, como se nada houvesse.

Abraço
Wilson

3 comentários:

Anônimo disse...

O site onde se coligiram as crónicas do Wilson, quando ele nos deixou. Será que ainda está online? Perdi o endereço...

Ler o Mundo História disse...

Taís que maravilha tu trouxeste para todos nós... estou aqui a rir com a gorda do supermercado; os neguinhos folgados, a paz do Oriente Médio e o Pinga Gandhi, só o Wilson mesmo pra fazer a gente ganhar a noite no sorriso...
Que falta faz esse amigo que cronicava pra nós, assim na intimidade, sem frescuras....

Anônimo disse...

Frô, meu mail
ilandau@terra.com.br
iosif.landau@gmail.com

Querida amiga, não me lembro mais da carta.
Parabens pelo Jabuti, imenso feito
beijo