quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

4 – A Dama do Metrô

Estava conhecendo uma nova sensação. Não poderia dizer se esquisita, não, não era esquisita, mas estranha, algo que ainda não conseguia explicar.
Seu olhar deslizou pelo ambiente. Simples, modesto, próprio para quem mora sozinho. Aparelho de som, cds espalhados, livros empilhados num canto, um pouco de bagunça como é o costume dos solitários.
Acendeu um cigarro. Dobrou a perna e o lençol escorregou deixando a mostra sua coxa grossa, lisa, amorenada. Sorriu ao ver sua posição sexy estampada no espelho da penteadeira.
Sorriu também por estar ali, por passar por essa experiência a qual se propusera, seguindo, ou melhor dizendo, concordando com a teoria de um poeta que lera recentemente.

“Todo ser humano tem que passar por tudo e qualquer experiência, sejam ela qual for”.

Realmente, mas nem todos têm a capacidade mental equilibrada para certas experiências.
Ouvia o barulho da água do chuveiro lavando cheiros e suores impregnado na pele dela, seus cheiros e suores que foram misturados tornando-se parte da longa e louca noite.
Acendeu outro cigarro. Gostava de fumar não pelo prazer de sentir a nicotina, mas pelo prazer de que o cigarro a fazia pensar. E dentro da fumaça do cigarro que espiralando sumia no ar do quarto, lembrou como foi que chegou aqui. Tudo por causa de um toque. Um toque que foi dado no seu dedo ao segurar a barra de ferro do trem.
Como sempre meio atrasada, desceu a plataforma do metrô e entrou sem pensar no primeiro que chegou. A sorte que o metrô não estava abarrotado, conseguira um lugar, mesmo que tivesse de ficar com o braço esticado segurando na barra de ferro. Nesse momento, sentiu o toque, olhou para a sua mão e viu outra mão delicadamente alisando seus dedos. Deparou com um olhar feminino sorrindo melosamente para ela. Meio que sem graça retirou a mão.
- Ola, tudo bem, cumprimentou a dona da mão atrevida.
- Ola, respondeu.
Começaram a conversar alegremente, e ela foi se encantando com a moça simpática, bonita, atraente, bem feminina. Quando foi convidada, aceitou ressabiada. Mas agora, ali no quarto, enquanto fumava ouvindo o chuveiro molhando a pele da companheira, chegou à conclusão que aquilo não era com ela. Tinha tido isso a ela, e ela lhe dissera.
- Use a imaginação, pense que você está com outra pessoa, com o seu namorado...
- Não tenho namorado.
- Então com algum homem que você gostaria de transar.
Ela na era mulher de imaginação, era mulher de ação, não era de ficar imaginando uma pessoa estando com outra. De sentir borracha entre as pernas, consolo é só para gays solitários que não conseguem conquistar ninguém. Não, ela não era para isso.
Portanto, precisava sair logo dali. Vestiu-se, e deixou um bilhete em cima do criado mudo.

“Sinto muito. Foi um prazer conhecê-la, mas o meu negócio é homem mesmo. Felicidades.”
Pegava o elevador quando ela saiu do chuveiro e lia o bilhete.
03.10.06
pastorelli

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