sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Flashes de viagem


Local de Destino: Dois Córregos. Cidade interiorana localizada na região central do Estado de São Paulo, distante da capital 272 quilômetros. O tempo de viagem, em ônibus intermunicipal é previsto em torno de 4h30. Nosso motorista do ônibus fretado conseguiu fazer o percurso mais longo.

Objetivo da viagem: A caravana rumava para o II Encontro Estadual de Escritores, que estava sendo realizado na pequena cidade.

Tudo perfeito, dentro dos conformes, não fosse o fato de que às 08h00 o ônibus ainda não tivesse chegado. Isso porque a saída estava prevista para 7h30. O que fez com que alguns chegassem ao ponto de encontro antes das 07h00. Os rumores agitavam o grupo e a preocupação era visível nos rostos que se pretendiam sorridentes, entre cumprimentos formais ou efusivos, dependendo do grau de intimidade dos participantes.

Os que o conheciam, sabiam que Erorci Santana ainda não havia chegado. Os outros (inclusive eu) limitavam-se a lançar, em torno, olhares esperançosos de visualizar o coordenador daquela odisséia. Num dado momento, apresenta-se a mim o Silvio Pirez. Após o prazeiroso conhecimento, respondo numa voz sumida, que Erorci ainda não havia chegado. Na verdade, eu imaginava que não, porque não pressentira nenhuma agitação maior, que sua presença causaria, como de fato aconteceu quando ele surgiu.

Entre os aflitos — Cadê? — O que houve? — Vamos telefonar (celulares sem baterias) e — Já vamos saber. Surge o ônibus, pela Verguerio acima. Soube-se, então, que enquanto permanecíamos aflitos em frente ao número 1.000, o motorista esperava tranqüilamente no número 100. Nós em frente ao Centro Cultural São Paulo e ele em frente ao Mac Donald´s — que também é cultura, porque não? — como disse alguém.

E lá fomos nós em horas intermináveis, rodovias afora. Afinal chegamos. Após toda a apresentação da parte matutina. Na hora do almoço. Mas chegamos, sãos e salvos.

A programação do dia e meio que se seguiu transcorreu normal, quase dentro dos horários previstos. Salvo no domingo, último dia, quando o evento deveria ser encerrado as 12h00. A caravana dos escritores havia sido convidada para almoçar na Usina Santa Adelaide, de José Eduardo Mendes de Carvalho, mestre de cerimônia de Dois Córregos.

Pretendia-se que o almoço começasse por volta de 13h00, o mais tardar. Mas, as 15h00 ainda estávamos na Estância Santa Paula, onde os convidados fechavam suas contas. Entre a preocupação com algo que a Betty Vidigal teria esquecido no Centro Cultural de Dois Córregos; a contagem das *bolinhas que Izacyl teria perdido e o Erorci, provavelmente tomado todas as suas com vinho e os protestos veementes do Raimundo Gadelha, indignado com o atraso e com a má organização, conseguimos chegar ao local as 15h20.

A entrada da Usina assemelhando-se à entrada de uma cidade ostentava placas para diversas localidades: Administração, Carga / Descarga, Fábrica etc.

Enquanto olhávamos e conjecturávamos sobre qual indicação seguir, o motorista, eficiente, obedecendo aos gestos frenéticos do sentinela da guarita, deu marcha a ré e enveredou por um caminho ladeira acima.

Poucos metros adiante demos de cara com um campo de futebol, onde um time inteiro, devidamente uniformizado, já aquecia a musculutura. E parcos torcedores olhavam o ônibus com aquele jeito de caipira curioso.

Decidimos, em uníssono, que efetivamente havíamos sido confundidos com o outro time de futebol.

— Deve ser a partida do Corrégo Um contra Corrégo Dois, sentenciou o, ainda enfezado, Gadelha.
Volta o ônibus sobre o caminho e, depois do devido credenciamento junto ao guarda, seguimos para a sede. Antes de descermos, foi escolhido o horário das 16h30, sem prorrogação, para que todos estivéssemos a bordo, a fim de prosseguirmos a viagem de retorno.
Desembarcou a famélica e cansada tropa, que marchou decidida casa a dentro do simpático José Eduardo, indo instalar-se no salão preparado para a refeição.

Palavras são poucas para descrever o carinho com o que tudo foi preparado e a atenção com a qual fomos agraciados. Fica o registro de um comovido agradecimento.

Dezesseis horas e vinte minutos, todos a postos, a fome saciada, os ânimos amainados, estávamos prontos para embarcar. Não sem antes uma corrida desenfreada, minha e do Beto Guedes, rumo a umas árvores que julgávamos, pés de noz macadâmia. Isso porque haviam nos dito que colheríamos a noz nos pés, quando fomos em busca de informações para comprar o fruto.

Registre-se que comemos fartamente da mesma, durante os dias do evento. O José Eduardo além de usineiro, é um dos produtores de noz macadâmia.

Mas, para nossa decepção, não eram árvores da noz o que havíamos avistado. Voltamos desconsolados para o ônibus que zarpou logo em seguida.

Durante o percurso, o ônibus dividiu-se em grupos onde alguns discutiam o resultado do encontro, enquanto outros ociavam em conversas amenas e pitorescas, e poucos ainda deliberavam a falta de critério dos organizadores, enquanto o veículo atravessava a cidade de Campinas inteira, para deixar o Roldan (segundo as línguas ferinas) na porta de sua casa. O que não foi verdade, já que o propósito era o do próprio motorista pegar sua filha em algum trecho do caminho. Coisa que já estava decidida com a empresa, antes da viagem.

Algum tempo depois de desmbarcado Roldan, ouve-se a voz suave e calma da Ana Luiza (Nilu):
— De quem é aquele sapato que vai fugindo ali no corredor?

Um pé de sapato, impulsionado pelos solavancos do veículo, caminhava valentemente em direção ao motorista. Provavelmente com a firme intenção de descer na próxima parada, que tudo indicava, seria a minha.
Repetida a pergunta, questionando a propiedade do sapato, acabou-se descobrindo sê-lo o Claudio Willer, que para melhor relaxar desvestira o intépido. E este aproveitando-se de uma curva sensível, resolvera cair fora daquela aventura pitoresca.

Acabei saltando no meu ponto: A ponte que não sei o nome, perto daquela avenida que vai dar no bairro da Lapa. Contaram-me, depois, que houve mais divergências sobre ir ou não ir até uma certa estação Tietê do metrô.

Entretanto, apesar de falhas, encontros e desencontros, insatisfações e conformismos, creio que o II Encontro Estadual de Escritores cumpriu seu objetivo, despertando em todos a consciência sobre a responsabilidade que nos compete para estimular o hábito da leitura junto aos estudantes de modo geral.

Os propósitos e enfoque do evento serão relatados em ocasião oportuna.

* Bolinhas de plástico coloridas que equivalem a reais, para compra dos extras não incluídos nas diárias do Hotel.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Muito bom esse encontro, muito bomesse dia, muito boa a companhia de vocês e, muito boa crônica. Um beijão Asta. Osvaldo