terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

LES BIENVEILLEUSES


Todos falam nele, o meio literário está em polvorosa: Jonhatan Littell, um escritor americano de apenas 40 anos e profundo conhecedor da língua francesa é autor de um imenso romance, seu primeiro, de 900 paginas: “Les bienveillantes" (titulo retirado da mitologia grega, as Euménides ,deusas da perseguição, vingadoras, aterrorizantes e eufemicamente chamadas e pelo medo de “les bienveillantes”(as benfeitorias) ,um impressionante relato(de 1941 a 1944), super documentado da criminos administração nazista alemã e sua loucura industrializada e super diligente, retraçando o destino de um dos seus carrascos. Uma nova tentativa de conseguir entender ou pelo menos interpretar o indecifrável.

Situado no meio da segunda guerra mundial, ele conta na primeira pessoa, a história de um franco – alemão nascido na Alsacia, formado em direito, culto (admirador de Lemontov, Stendhal e Flaubert)...perturbado por um relação incestuosa com sua irmã, fato que o perseguirá a vida inteira, pratica o homossexualismo mesmo o detestando.

Enfim, um homem com suas pequenas mentiras, suas perversidades, suas hipocrisias e suas inabaláveis certezas. Funcionário dedicado, sonha em servir seu país com uma abnegação meritória e elogiável...esse homem erudito dotado de um espírito pratico pouco comum foi incumbido pelos seus superiores a cumprir missões no exterior. Objetivo: “aprimorar o rendimento” da infra-estruturar ferroviária entre a Alemanha e seus vizinhos, ir sempre mais longe e mais rápido. Se empenha com afinco de corpo e alma a tarefa, a incessantes reuniões com seus colegas, sempre presente onde era preciso, sem hesitar de suar a camisa na presença dos seus subalternos.

Ele é escravo de si mesmo, do seu trabalho, é exemplar e zeloso. Mas isso não seria suficiente para evitar o emperrar de seus objetivo que ele persegue com tanto fervor: invejas, insultos, rumores maldosos destroem progressivamente esse microcosmo podre dos altos funcionários como ele.

50 anos mais tarde encontramos Herr Maximilien que com nome falso é diretor de uma fabrica de rendas. Sabemos que “imprevistos” fizeram fracassar as ambições grandiosas da Administração do qual participara no passado. E então desaba ao lembrar – se da verdade sobre sua existência monstruosa : daquele oficial da SS trabalhando na destruição da Europa do Leste, do genocídio dos judeus, dos ciganos, dos poloneses , dos comunistas nas mãos criminosas da Einsatzgruppen SS( as equipes moveis acobertadas pelo exercito alemão que assassinavam comunistas e judeus nos territórios conquistados) . Um monstro sem consciência, doutrinado que de nada se arrepende a não ser de ter fracassado na missão da qual foi incumbido...”O que fiz não foi com total conhecimento de causa pensando que fazia parte do meu dever e que era preciso ser feito mesmo sendo desagradável e totalmente desastroso”, falava ao iniciar suas memórias.

Littel l nos pinta um quadro magistral do destino de um homem encarcerado no mecanismo industrial do horror nazista, a execução organizada do genocídio que ele decifra com exatidão sem mergulhar na compaixão, excesso de sentimentalismo. È um trabalho literário ambicioso tentar enxergar e mergulhar no interior do Mal e suas sinistras ramificações que mataram milhões de inocentes. A escolha de escrever na primeira pessoa foi um dificuldade adicional pois não lhe seria perdoado nenhum deslize.

Segundo alguns críticos, o autor peca nos diálogos embora alimentados por um documentação bem examinada(ele estudou por dois anos arquivos escritos, sonoros e filmados da guerra e do genocídio , os atos desse procedimento, os organismos administrativos e militares, os estudos dos historiadores e suas interpretações, leu mais de 200 obras sobre a Alemanha nazista e em especial sobre a batalha do front do Leste como também visitou Cracovia, Kiev, Piatgorsk, Stalingrad...seguiu o caminho da invasão sangrenta da Wermcht na Russia) que às vezes soam inverídicos e artificiais.O mesmo pode ser dito a respeito das descrições dos diversos organismos responsáveis pela exterminação, quase margeia o tédio.

Mas o conjunto é impressionante.

Abaixo o primeiro parágrafo da análise feita por Mario Vargas Llosa

“O leitor sai de Les Bienveillantes, romance de Jonathan Littel que acaba de ganhar o Prêmio Goncourt, na França, onde teve um sucesso de público sem precedentes, asfixiado, desmoralizado e ao mesmo tempo estupefato diante dessa viagem através do horror e a oceânica investigação que tornou possível esse livro. Não me recordo de ter lido um romance que documente com tanta minúcia e profundidade os pavorosos extremos de crueldade e estupidez a que chegou o nazismo no seu afã de exterminar os judeus e outras raças inferiores durante a sua curta, mas apocalíptica trajetória.”

I.L

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