não bebo mais, mas quando bebia
no bar que eu ia
ninguém me conhecia,
ninguém pra perguntar como eu ia, escolhia um escondido
escuro e perdido,
sem espelhos pra me ver,
sem relógio pra me vigiar,
catedral pra rezar como eu queria,
beber meu gim e não pensar
numa dessas tardes gris
um garçom nunca ali visto,
cara de guardanapo farrapo
demoliu o silencio, gesticulou alto
“ela pediu pra lhe falar”
um gole de gim amargo,
“que venga la puta!”
sombra esbelta sentou ao meu lado
“ vai pagar seus pecados”
voz suave, sotaque melado,
pedi outro gim com gelo picado,
não estava afim de papo chinfrim,
“roubou meu pudor, me abandou na dor”
engoli um pedaço de gim,
“você fala de amor pra quem já morreu,
agora despejo o prazer no esgoto,
o mar subiu pelo vaso, levou meu caralho”
cuspi o gelo de volta pro copo,
a sombra aproximou o rosto,
“me fez largar o amor pago,
me abandou um trapo ”
acendi um cigarro,
“deixa de sacanagem, você pulou a janela,
fui ao seu enterro e rezei com mais ardor
que na foda do nosso primeiro amor”
a mãopassou pela minha barba branca,
“te vi machão e bonitão,
morta e gelada no caixão
gozei de tanto tesão”
o garçom nunca ali visto,
cara de guardanapo farrapo
aproximou – se :”sim senhor?”
“minha conta, o da moça eu pago”
“que moça, senhor?”
caminhei na noite escura
ao encontro da minha cama
desfeita e abandonada,
sem saudade do meu passado safado,
minha putaria foi demais,
beber nunca mais.
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