em algum lugar essa rua acaba
num beco sem saída
e agora tem grama de cada lado
da rua
e o sol ilumina e os pássaros piam
e a brisa não traz cheiro de fumaça
e a rua encontra outra rua
que atravessa outra mais
e mais duas se cruzam
e agora há paz nessas ruas
mas não faz muito tempo atrás
que os judeus encurralados
no gueto de Varsóvia
ouviam
gritos, berros, vidros quebrar,
viam
sinagogas incendiadas,
lojas arrasadas,
escolas fechadas,
botas alemãs e a cruz gramada
e no labirinto do gueto
os mais valentes em subterrâneos
cochichavam a luz das velas
e planejavam o levante
enquanto o bebê chorava
enquanto balas crivavam as janelas
e alguém da família morria em agonia
e a mãe fala::
“espera mais um pouco meu filho!”
e atingida de morte murmura:
“no céu te encontra!”
túneis cavaram, como ratos viveram
labirinto de vida ao labirinto do esgoto
de Varsóvia
mil lutaram, crianças e velhos,
morreram,
gueto arrasado, poucos ratos escaparam,
o sol se põe, nenhum ruído,
as ruas se calam,
a noite é calma,
uma criança chora, risadas,
tudo silencia,
o esgoto labirinto
por baixo do asfalto
ainda vive.
Iosif
2 comentários:
Impressionante esse soneto que abraça a tremenda agonia cinza da humanidade desavinda... negra condição de vida que lograda nos seus mais direitos elementares consumiram muitas vidas por preencher.
Sonetos como este são bem-vindos para lembrar os momentos de facínora que o mundo constatou e viu...
Sim é preciso lembrar sempre, porque os revisionistas querem fazer crer que o gueto de Varsóvia é ficção.
E é preciso ver se não repetimos tais barbáries contemporâneas com outros povos guetizados hoje em dia....
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