Malu sorriu de leve, quase imperceptivelmente. Abaixou os olhos. Pela segunda vez nesta semana, o rapaz olhava para ela e sorria num jeito audacioso, até maroto. Encostado a porta, lendo o livro, de vez em quando erguia a cabeça e com os olhos procurava por ela. Malu vinha observando-o, bem apresentável, com um uniforme discreto, mas que denunciava a profissão, bem, era o que ela deduzia que fosse: garçom.
O cabelo preto, cortado quase rente, nariz adunco, meio voltado para baixo, olhos pretos, de um meigo brilho revelando o sorriso da alma, boca de lábios finos, não delicados, cobertos por um bigode ralo, queixo proeminente, compunha uma face bonita, atraente.
Só o notara porque sua mente dispersa vagueava entre as pessoas sem se fixar num ponto. Foi então, que ao erguer o olhar, reparou nos olhos pretos, de olhar meigo a olhar para ela. Como ele sorria de leve, Malu retribuiu o sorriso. E a partir desse dia, numa coincidência cinematográfica, pegavam o mesmo vagão do metrô. Isto é, quando ela entrava no trem ele já estava lá, talvez angustiado sem saber se ela veria ou não. Malu notava ligeira mudança no aspecto dele ao vê-la. Parecia que uma luz iluminava seu rosto bonito, devolvendo, no sorriso suave, a luz que ela lhe transmitia. Malu sentia isso, mas não conseguia explicar o porque.
No terceiro ou no quarto dia, não lembrava, sucedeu o que tinha ou o que deveria suceder. Se perguntasse a ambos, como fora nenhum dos dois saberia dizer, principalmente com pormenores, como chegaram à intimidade. Malu não ousava se explicar, não queria quebrar a magia romântica, apesar de não ser romântica e, sim, prática. Ele, Brunildo, também não queria entrar em detalhes, pois o que acontecera era para ser aceito e nada mais, o inexplicável tornava a relação mais excitante, dizia ele, toda vez que Malu tocava no assunto.
Beijando seus seios formosos como a polpa de um figo rosado, retrucou:
- Então estamos conversados, não falemos mais nisso.
28.12.06
pastorelli
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