sábado, 9 de janeiro de 2010

72 – A Dama do Metrô.




Colocou um sinal gráfico no texto e recostou-se na cadeira. Acendeu um cigarro. Foi até a cozinha, tomou um longo copo de água. Voltou para sala. Ligou o aparelho de som e colocou um cd. Ouviu o piano numa sonoridade melancólica como se perfurasse a carne, onde o sangue escorria palavras que aos poucos formava suas memórias. O tempo ingrato lhe dizia que já não é a mesma, que os seios, outrora fartos, pesa feito pedra; que a barriga sensual de penugem ralo excitante avolumou-se gradativamente; que as pernas antes roliças e lisas tornaram-se grossas mostrando pequenos vasos de veias; que seus lábios carnudos, sensuais, não trazem mais excitamento erótico ao dizer palavras libidinosas; que seus olhos antes vivazes estão meios opacos, lerdos em perceber as intenções; mas ainda tinha atração, se achava sensual.
- Ainda há rapazes que curtem uma coroa enxuta. – disse se exibindo ao espelho.
Com uma alfinetada de pesar constatou que não poderia escolher como antigamente escolhia suas presas. Agora aquele que caísse na sua armadilha, não importasse qual fosse, teria que traçá-la. Voltou ao computador. Voltou as suas memórias que no momento era o único prazer que poderia usufruir.
Nos primeiros meses Malu pensou somente no serviço. Trabalhava com uma prazerosa disposição aprendendo tudo que lhe ensinavam. Sabia ter potencial limitado, mas com o tempo essa limitação seria eliminada. Ao passar os meses de experiência é que Malu suspirou mais aliviada, no entanto tinha noção que ainda não estava segura, de uma hora para outra poderia ser demitida. Para que isso não acontecesse foi assimilando todos os aspectos, desde ao baixo nível até ao mais alto. Isto é, não chegou a aprender todos os pormenores do que, em matéria de serviço, ocorria na seção ao qual estava designada, mas tinha potencial para discutir quais fossem o assunto pertinente que surgisse no dia a dia.
Traçou um objetivo e dentro desse objetivo se empenhou ferrenhamente a conquistá-lo, mesmo que precisasse usar do seu charme feminino. Pouco importava com o que dissessem da sua atitude, tinha e precisava alcançar o limite máximo a que se propusera atingir.
Assim sendo ao receber seu primeiro salário como efetivada, gastou em roupas e sapatos e bolsas e perfumes, deixando apenas uma pequena quantia para seu lazer e condução.
27.06.07
pastorelli

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