Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de emoção
deparo-me com o abismo do que devo e do que não devo e digo o que não quero
e penso no imponderável calando-me diante do ponderável
Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de comoção
entrego-me à fala muda dos símbolos emoldurando a vida na arte de viver
e vivo esmurrando ponta de faca diante da timidez que me cala
Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de paixão
dispo-me do ser que sou e desejo ser o que não sou e deparo-me com o que não quero entre o ser e o não ser no fundo do copo contemplando a burguesia falida
Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de pecado
desfaço-me dos nós enrolados no perdido e vazio sentimento que à margem do prazer navega nas ondas da decepção e do ilusório êxtase carnal
Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de amor
onde disputo a caça entre caçadores vorazes pela presa fácil que futuramente
constará no relatório sexual
Nos intervalos da minha vida o sentir nunca tem respostas...
pastorelli
08.02.2008
- poema inspirado em “Intervalo do sentir”, de Amelia Pinto Pais
Intervalo do sentir
o que se sente entre o que se pensa e diz
o que se pensa entre o que se sente e cala
o que se cala entre o sentir e o ser
o que se diz entre o que se ama e sonha
nós
no mais fundo de nós
nós perdidos
nós vazios
nós à margem
desarmados
desamados
Quem vai responder o que não tem resposta
Quem vai falar o que não tem palavra
Quem vai achar o que em nós esquece
Quem vai roer o que em nós sufoca
Vem noite ou pranto ou dia ou vento
Quem quer que sejas mas que seja o novo
Abrindo um canto em tua carne clara.
Amelia Pinto Pais
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