segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

para Amelia Pinto Pais

Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de emoção
deparo-me com o abismo do que devo e do que não devo e digo o que não quero
e penso no imponderável calando-me diante do ponderável


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de comoção
entrego-me à fala muda dos símbolos emoldurando a vida na arte de viver
e vivo esmurrando ponta de faca diante da timidez que me cala


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de paixão
dispo-me do ser que sou e desejo ser o que não sou e deparo-me com o que não quero entre o ser e o não ser no fundo do copo contemplando a burguesia falida


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de pecado
desfaço-me dos nós enrolados no perdido e vazio sentimento que à margem do prazer navega nas ondas da decepção e do ilusório êxtase carnal


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de amor
onde disputo a caça entre caçadores vorazes pela presa fácil que futuramente
constará no relatório sexual


Nos intervalos da minha vida o sentir nunca tem respostas...


pastorelli
08.02.2008


- poema inspirado em “Intervalo do sentir”, de Amelia Pinto Pais

Intervalo do sentir

o que se sente entre o que se pensa e diz
o que se pensa entre o que se sente e cala
o que se cala entre o sentir e o ser
o que se diz entre o que se ama e sonha

nós
no mais fundo de nós
nós perdidos
nós vazios
nós à margem

desarmados
desamados

Quem vai responder o que não tem resposta
Quem vai falar o que não tem palavra
Quem vai achar o que em nós esquece
Quem vai roer o que em nós sufoca
Vem noite ou pranto ou dia ou vento
Quem quer que sejas mas que seja o novo
Abrindo um canto em tua carne clara.


Amelia Pinto Pais

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