sábado, 16 de fevereiro de 2008

para Ana Luisa Peluso

Com a areia da raiva e com os ferros do ódio edifico minha performance medíocre
na face eterna do tempo onde todos os instantes são meros artifícios de se viver.

Registro meu destino no frustrado rosto que me parece indomável em aceitar os
passos frágeis trilhando caminhos ao enfrentar a areia e os ferros.

Entre os escombros a alma se afrouxa no delírio em ser.

Nos olhos resplandece a alegria numa orgíaca festa pobre.

Não fui convidado e por isso não percebi os acontecimentos.

Num golpe só cabeças rolaram num ritual cinematográfico

Implantado o medo, a sociedade burguesa cravou sua angustia nos homens sem destinos.

As idéias como bolinhas de vidros, quebraram janelas revelando os molambos famintos, sedentos e porosos consumindo-se no craque infalível.

E entre eles, esperei o que achei deveria esperar.

Ou será que deixei passar e não percebi?

pastorelli
12.02.2008.
- inspirado no poema sem título, de Ana Luisa Peluso –
Temos estado aqui por tanto tempo;
que eterno me parece esse momento.
Como eterno me parece ser,
o indomável destino
ao qual me propus.

Os caminhos são frágeis,
a força é de ferro, o que não
muda a condição dos caminhos.
Apena há a força.
E permaneço.

As almas são tolas,
mas seguem fluxos
aos quais se adequam.
Os olhos mudam, avisando: tudo mudou, todos mudam;
...ninguém me avisou...
Nem da festa
que haveria, muito menos
das que nunca houveram.
Apenas me convidaram.
Não especificaram trajes,
nem prendas para levar. Nem o porque de estar acontecendo...
Casamento, aniversário, batizado?
Circuncisão de pensamentos!...
Dogmático ritual.
Onde cabeças rolarão.
Por não se compreenderem.
Não se permitirem,
pelo medo lhe fazer a corte.
E essa angustiante eternidade
se faz sensível ao meu ser.
Me entorna as idéias pelo chão,
poroso, sedento, faminto,
de delas tirar o alimento.

O chão engole nossas crias,
e nesse chão tem muita gente
deitada, de bocas abertas,
esperando pela comida.
Ana Luísa Peluso
30.04.00

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