UMA PALAVRA
Carlos Edu Bernardes
estava eu no rio quando uma palavra boiou perto da sombra de uma árvore.
Carlos Edu Bernardes
estava eu no rio quando uma palavra boiou perto da sombra de uma árvore.
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era uma palavra longínqua e tinha um cheiro de coisa que estava estragada e era viscosa e pesava.
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era uma palavra que pelo jeito nada entendia de bichos porque por onde passava ao seu redor era apenas água que se sujava e pronto.
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de todas as palavras que vi e de todas as pronúncias que pulavam no vilarejo essa palavra eu poderia dizer que era ruim de falar e tinha um semblante ambicioso como se suas letras conspirassem macular o dicionário.
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talvez ela tivesse certeza de que um dia perambularia num rio e se espalharia pelos ares e que não seria entendida por um pequeno e roto pescador e sendo abusada e propagativa faria com que fosse pronunciada em todos os lugares.
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como quem quer nada e como alguém que sempre respeitou as poucas palavras que conhece eu a segurei pelos lados e tentei clarear suas sílabas oleosas de substantivo.
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mas nesse momento com espanto percebi que ela não ficaria limpa e sim contaminaria os panos da minha canoa e os corpos dos meus peixes sadios de natureza.
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sem saber o que fazer vi que ela escapulia de novo pelo rio e logo outras do mesmo álbum de sinônimos vieram acompanhá-la.
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agora de cada cinco palavras ditas nos arredores e nos açudes três são 'poluição' e as outras duas pelo visto e sentido nem multiplicadas por mil acabarão com ela não.
2 comentários:
Muito bom, Carlão com grande domínio da palavra, parabéns. Osvaldo
Obrigado, Mestrosvaldo!
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