Hoje, no meu aniversário, recebi mais um presente: pela segunda vez, com a minha segunda obra didática (desta vez em co-autoria) estou na lista dos finalistas do prêmio Jabuti.
Na primeira vez, em 2005, fui agraciada com o terceiro lugar com a obra Paratodos- História.
De novo a concorrência na categoria dos didáticos-paradidáticos é grande, tomara que a História em Projetos fique, como a Paratodos em 2005, entre os três primeiros, seria muito bom, conto com a torcida de vocês.
Gostaria também dividir essa alegria com minha co-autora Carla Miucci e toda a equipe da Ática sob a batuta do João Guizzo e do Aurélio Gonçalves (Aurélio sare logo para subirmos de novo no palco, 'é nóis na fita, mano' :)
Um grande abraço a todos vocês, velhos e novos amigos com quem posso dividir este presente.
Conceição Oliveira
ANIVERSÁRIO
Cada bardo n’algum tempo da vida
fez um auto-retrato.
Desconfio que foi no aniversário.
Um escreveu que a mãe determinou:
"Vai ser gauche na vida!"
Outro imputou sua sina
a um querubim chato,
que o predestinou a ser errado
para todo o sempre.
Eu não tive grandes manifestações:
nem de anjo, nem de bênção materna.
A primeira palavra que ouvi na vida
foi um sonoro: MERDA!
O fato se deu
pela falta de ultra-som!
Se a gestante tivesse tecnologia,
quem sabe não se frustaria
ao conceber uma fêmea
carregada de gonadotrofina...
Mas não tinha!
Daí a sina de tal menina....
Nasci ouvindo: MERDA!
Resolvi, transformar a dita
Num cumprimento: MERDA!
Como fazem atores, (franceses ou não),
desejando sorte e euforia
para os companheiros em estado
de dionisíaca encenação.
Minha vida prosseguiu
Fiz amigos, inimigos, não perdi a meta.
Quando feliz, quando triste,
sempre dizia: MERDA!
com dedo em riste, pra marcar opinião.
Hoje o dia passou,
Eu, arrumando as gavetas, uma a uma:
agreguei um segredo,
botei no cantinho o medo,
dobrei amarguras
e pendurei no cabide
toda a tristeza acumulada.
Sacudi a poeira da dor recente,
tirei os vincos daquela mágoa antiga,
pus ao sol meu sorriso pra quarar.
Joguei fora o excesso de ressentimentos
até os mais básicos,
aqueles que nunca saem da moda....
Talvez sirvam para alguém se agasalhar...
Chego a sentir um certo orgulho
da minha arrumação, embora tenha deixado
algumas peças desnecessárias no armário.
Tomando espaço, restou: o cheiro do amado,
a roupinha primeira da filha
e aquela alegria velha, com alguns furos
tão confortável pra dormir...
Dia findo.
Entretanto resta tanto a fazer...
a pia pinga, a progenitora liga
e não lembra do aniversário...
Eu não sei o que aconteceu de fato,
Mas não digo nada.
Mães têm o direito de esquecer.
Decido abandonar os pratos
(aqueles que denunciam a falta de paladar
e o tempo corroendo aquilo que era para alimentar).
Esqueço da maldita lâmpada
que teima em queimar na escada.
Quero ficar largada, receber o abraço dos amigos,
do amor, de mim.
No meu aniversário avaliei avanços e quedas.
Um pouco da herança que me resta:
não disse e nem ouvi: MERDA!