sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Bode


Hoje bateu o bode
aquele budum de coisa velha
tempo frio, bom de encorujar
tempo bom de abrir baú
coisa antiga desenrolar
pensamento a vadiar
por viagens passadas
só não contava
que o barco da saudade
vazando lágrimas
fosse afundar.

Fado Antigo

Estava procurando um fado antigo, mas daqueles bem antigos mesmo, com chiado e tudo, e olha só o que encontrei:


fado antigo
Fred Matos


ouço, se não me traem os sentidos,
soando das cordilheiras líquidas do mar,
cordas de aço cantando um fado antigo.

ouço mulheres chorando a saudade dos filhos,
dos amantes, dos maridos;
marinheiros que nunca vão voltar.

na esperança de que voltem,
trocam as flores secas das grinaldas
as noivas que nunca vão casar.

são vozes gregas, fenícias, portuguesas...
que em comum toam, com a mesma melancolia,
a dor de quem vive só; só por esperar.


publicado em "Eu, Meu Outro"
Editora Poesia Diária
Maio/1999


Esse vai para a "tag" serendipidade.


Ole

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

9 – A Dama do Metrô

Gemia. E como gemia! Meu Deus será que não vai parar – gritou o pensamento aflito macerando o cérebro. Já faz mais de vinte minutos dentro dela e nada. Caçamba! Ela ajudava, incentivava acariciando as costas. Audaciosa levou o dedo entre as nádegas mole que chacoalhavam parecendo gelatina. O pior era agüentar o peso e o bafo de cigarro mordiscando o lóbulo da orelha. Credo! Ainda bem que vai pagar, não reclamou o que pedira, portanto tinha que agüentar.
Será que era dessa maneira com as profissionais da noite? Combinavam, entravam no quarto, se despiam e, vapt e vput, nada mais? Por sorte conseguira alugar esse modesto quarto nas proximidades. A única exigência do proprietário era para limpeza. Ela tinha que cuidar em deixar o quarto limpo como encontrou.
De repente os gemidos cessaram. Como uma sirene, o cara começou a berrar num oh bem prolongado que não acabava mais. Depois, se soltou em cima dela, pousando a cabeça em seu peito. Ufa! Até que em fim, disse mentalmente. Dali a pouco notou, o cara estava dormindo, começava a roncar. Oh! Meu, ta pensando o que, sai de cima de mim, hei, tenho que ir trabalhar vamos levante. Deu um safanão no coitado que, assustado, tropeçou ao se levantar. Agora no banheiro vai se lavar e deixar essa meleca de camisinha jogada no chão e, eu é que vou catar. Que merda!

No metrô o cara era outro. Todo engravatado, cheio de gentileza, boa conversa, falaram de vários assuntos durante o trajeto, até que, por sua iniciativa, bem displicentemente, forçou o cara a fazer o convite. Não respondeu logo de imediato, fez um pouco de suspense, retesou até onde pode a surpresa, apenas para ver a reação dele. Dos olhos chispavam fagulhas de sexo atraente. E quando ela disse sim, e jogou a oferta num preço que, para ela, imaginava alto, ele sem pensar um minuto aceitou. Antes não tivesse aceitado, mas... Como dizia o ditado: quem sai na chuva é para se molhar.

Quinze minutos depois, todo lépido e limpo, ele saiu do banheiro. Com gestos enfadonhos, cheios de extravagância metódica, vestiu a roupa. Olhou-se várias vezes no espelho vaidoso contente com ele mesmo. Tirou a carteira do bolso, separou o dinheiro, beijou o rosto dela de leve, depositou em suas mãos o dinheiro. E sem dizer uma palavra, saiu batendo a porta.

Assim que o som da porta, dentro do silêncio que se fez em seguida, morreu num fundo do corredor da mente dela, foi tomada de uma sensação de perda, como se um pedaço tivesse sido arrancado. Respirou fundo, entrou no banheiro, tomou um banho, de pelos menos, vinte minutos, se enxugou, se vestiu, guardou o dinheiro na bolsa e, desceu.

Na rua o sol brilhava monotonamente entre o vai e vem da cidade já desperta.
13.10.06
pastorelli

Retratos Portugueses

Há pessoas, como o Lau, por exemplo, que fazem poesia com palavras cheias de imagens, e nesse caso a imagem é oculta no verbo; outras, como o Al Chaer, a fazem com signos imagéticos e, nesse caso, o verbo é oculto na imagem.

Eu tenho optado por ocultar o verbo e mostrar apenas a imagem.

Da mesma forma que não consigo definir se a penúltima imagem é um poema visual ou uma declaração de amor ao povo português, jamais me arriscaria a chamar o que faço de "poesia", ou de "verbo", mas no entanto é isto o que tenho feito.


Convido todos a verem minha série "Retratos Portugueses".

http://blog.oleschmitt.com.br


Olegario Schmitt

domingo, 24 de fevereiro de 2008

sábado, 23 de fevereiro de 2008

8 – A Dama do Metrô

Ela esperava. Já estava no segundo cigarro. O que será que ele fazia no banheiro? Por ela tudo bem, tinha o tempo que fosse para esperar. Precisava fazer a abordagem com outro esquema. O esquema atual não funcionava direito. Tinha seus momentos de êxitos, porém a maioria era negativa. Como agora.
- Você pode esperar um pouco? Vou até o banheiro e já volto, pediu logo que entraram no quarto.
- Tudo bem, fique a vontade - disse ela.
No entanto o cara ultrapassava sua consciência de espera. Nervosa, fumava o terceiro cigarro que amassou no cinzeiro sujo em cima de um móvel capenga. Sentia-se irrita. Decidiu ir embora.
Jogou as pernas para fora da cama e, pegava o vestido quando ouviu ele dizer:
- Você está como eu pedi?
- Sim, estou, respondeu.
- Só de camisola?

- Sim, só de camisola - droga o que esse cara está aprontando?
- Posso te pedir mais uma coisa - gritou ele através da porta fechada.
- Pode.
- Você não vai rir?
Rir! Porque rir? Intrigada respondeu malcriada.
- Não vou, não porra!
- Está bem, vou abrir a porta bem devagar.
Cacete, o que esse cara está aprontando? Preparou-se, colocou o corpo em guarda.
A porta do banheiro lentamente foi abrindo, bem devagar. A lentidão estava dando lhe nos nervos. Quis gritar para que andasse logo. No entanto ficou a espera.
E a figura que viu saindo do banheiro foi grotescamente ridícula que ela não pode deixar de cair na gargalhada.
- Porra! Você prometeu não rir.
- Aí meu Deus, desculpe, sinceramente desculpe, é que nunca passei por uma situação dessa.
Ela não conseguia se controlar, tentava segurar a gargalhada, mas ela vinha lá de dentro num ímpeto e saí num abalroamento de risos seguidos.
O cara da porta do banheiro ameaçava rispidamente.
- Você prometeu que não riria, e além do mais estou lhe pagando, não estou?
- Sim, está - ela respondia colhendo o fôlego entre as risadas - desculpe, mas se você tivesse...., por favor, não se irrite...., se tivesse me prevenido acho que seria melhor...., não acha?
- Parece que não tem sensibilidade, não tem fantasia nenhuma?
- Sim, tenho, mas não esperava isso. Ver um homem másculo como você, peludo, vestindo camisola e calcinha,... ah! desculpe, ta.
- Tudo bem, vamos fazer de conta que nada disso aconteceu, está bem? Vou entrar no banheiro e sair como se fosse a primeira vez.
- Tudo bem...
O cara entrou no banheiro, fechou a porta. Ela enfiou o rosto no travesseiro e riu, riu, riu até chorar molhando a fronha.
11.10.06
pastorelli

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Queridos poetas, uma ausência temporária

Que bom ver Asta chegando por aqui, eu gostaria que alguém desse um help pra Sandra Falcone, ela está tentando postar e está encontrando dificuldades, Olê ou Edu please façam um um tutorial e encaminhem pra ela, ok?

Por hora eu estou em um ritmo interno de muita marcha lenta: muito trabalho de edição, muitos pepinos que não vale ficar relatando aqui e o acidente que sofri no dia 15 no niver da Mamá, tala, muita ida ao ortopedista e esse pé, tornozelo e perna que virou tudo uma coisa só, me impede de ir e vir, dificultou ainda mais as coisas.

Mas tô adorando ver chegar todos os dias no meu mail que aqui tem postagem nova, comentário novo, isso significa que o poetas lusofonos já foi abraçado e que todos aqui vão zelar por ele, é muito bom ver isso.

Por hora segue um poemeto que, à época, o Félix gostou:

MEUS TEMPOS

Meu tempo de criança funde
passado, presente e futuro
onde busco me reencontrar
e meu espírito, adulto-inseguro acalmar,
num acalanto de mãe sossegar.


Meu tempo de velho é estereotipado
tempo egípcio, tempo arrastado, milenar
tempo de quem conta o tempo
do curso do tempo e inventa calendário
tempo da deusa Máat


A deusa da pena que pesa sem pena
o peso da pena num prato da balança
n'outro teu coração posto em juízo
e se mais pesado for que a divina pena,
é um coração morto, mas se oco, sem juízo
tu tens direito de, ao lado de Ísis e Osiris,
prosseguir uma segunda vida no segundo mundo,
carregando teu Ká.

Por isso o tempo de velho
é tempo de espera e de reflexão....
Para ser desperdiçado em poesia belas ou não.


E o meu tempo?
É tempo de trabalho árduo na era da burguesia
É tempo de um tempo que não tem tempo pra poesia
É tempo de inveja de não ser amigo do rei
É tempo de labuta, de eterno presente
É tempo de corpo cansado e doente
É tempo de uma mente que se agoniza
É tempo que teima resistir dia a dia
É tempo que quer olhar seu mundo
de vazia existência e fugir
enquanto vadia e engana o tempo
escrevinhando poesia....

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

para o Anderson Santos

Queria por um momento só que fosse, um pequeno, um instante de momento que suas mãos tocassem nas pegadas deixadas no caminho das frustrações.


Queria minhas palavras escritas nos cartazes e outdoors sangrando angústia por sentimento não correspondido.


Queria fechar os olhos e me embebedar na escuridão da tua ausência ao cravar na pele bolhas de champanhe espocando a solidão que sempre me acompanha.


Queria expulsar a fria luz que ilumina minhas dores em noites escuras aterrorizando meus sonhos e desejos mal alimentados.


Queria saber onde estão tuas mãos nesse momento que não me tocam mais.


Queria teu grito sussurrando em meus ouvidos o gozo das frases obscenas e prazerosas.


Queria teu silêncio de palavras banhadas de ar e luz...


Queria tudo, nada tenho, só não queria esquecer você.


pastorelli
19.02.2008


- Poema inspirado em “Vagos pensamentos vários”, de Anderson Santos. -


Vagos pensamentos vários


Queria poder deixar pegadas, rastros
para ser seguido ou caçado
mas meus pés não alcançam o chão


Minhas palavras deveriam ter bula
onde constasse detalhadamente
indicações, contra-indicações e riscos de superdosagem


Quando fecho os olhos
toda escuridão é densa e palpável
e as vozes do silêncio me percorrem a pele
como luvas de ar


E a luz fria que atravessa as frestas
da janela mal cerrada que me espia
me invade a boca e alimenta medos


Onde estão agora as mãos
que me tocavam o sexo?
Onde estão o gozo e o grito?
Onde estão os rastros e as palavras
o silêncio, o ar, a luz?
Onde fui parar?


Anderson Santos

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Olá meu povo!

Foi uma das melhores coisas que me aconteceu — se bem que não tem me acontecido muitas coisas boas ultimamente, estou na fase do "quanto mais rezo, mais assombração aparece" — : o telefonema da Frô, falando do blog e o convite.

Como ela mesma disse: "resgate do elo perdido".

E eis que novamente estamos todos (ou quase todos) juntos.
Somos especiais, não só porque falamos a mesma língua, mas por que temos, realmente, um elo transcendental qualquer.

Estamos na mesma sintonia, creio eu, pelo menos alguns de nós.
E, então, por mais que me fujam as palavras, por mais que me embote o raciocínio, tem uma coisa que posso e quero falar:

— É muito bom ver vocês juntos novamente!


Um beijo grande
asta

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

7 – A Dama do Metrô.

Hoje ela estava preparada. Antes de sair conferiu: saia, blusa, calcinha, meia, sapato, cabelo, lábios pintados em fim, tudo como havia programado.
Descobriu que saindo um pouco mais tarde, pegaria o metrô mais cheio, o pessoal mais decente, trabalhadores de paletó e gravata e, não trabalhadores da construção; não era preconceituosa, queria tentar os engravatados, ganham bem, com aparência de serem importantes, talvez até fisgasse um endinheirado, quem sabe – pensou ao entrar no trem rebolando propositadamente.
Morena de seios fartos, cabelos cacheados, exalando sexualidade, não passou despercebida. Com seu jeito bem feminino, conseguiu ficar no corredor, entre um rapazola e uma senhora já meio que passada.
- Essa é você amanhã, pensou ao passar pelas costas da senhora.
Sorriu maliciosamente para o rapaz, com seus dezoitos anos mais ou menos, calculou ela.
Estupefato com tamanha beleza sorrindo para ela, o rapaz engoliu a saliva, e retribuiu o sorriso sem jeito, engasgando sem saber se falava ou continuava sorrindo.
- O melhor é ficar na minha, convenceu-se timidamente.
Ela se achegou mais para o lado dele.
- Meu Deus, que morena. Se eu contar para os manos eles não vão acreditar.
Grudado a ele, notou por cima do vestido a maciez da pele dela. Tremeu excitado. Forçando, ela conseguiu ficar na frente do rapaz roçando os seios em seu peito. Notou a gravata bonita, o terno bem passado, cabelos cortado bem baixo, pensou:
- Hum, rapaz novo, em ascensão de carreira, deve ganhar razoavelmente bem.
Percebeu a excitação. Tremia, começou a suar, não sabia o que fazer. Sua mão esquerda roçava nas coxas dela. Provocando-o encostou o joelho entre suas pernas. Vermelho o rapaz tentava se controlar, percebeu, não conseguiria se conter. Seus olhos não desviavam dos seios dentro de um decote provocante. Ela levou a mão na perna e, lentamente, foi subindo por dentro da coxa dele. Nisso, o rapaz fez uma careta exclamando:
- Não, por favor pare...
- Seu nojento, fraco, doente, vá procurar um médico, tarado, gritou ela.
E deu um empurrão no rapaz que, todo vermelho, acanhado, tentava esconder a enorme mancha escura que se formou na sua calça cinza claro.
10.10.06
pastorelli

domingo, 17 de fevereiro de 2008

O rato e as ratas

Qualquer semelhança com a realidade, com séries de TV ou com ficha arquivada da "Lerdas & Lerdas Associadas"... É mera coincidência.

O dia amanhecendo.
O sol surgindo no horizonte.
Em sua incursão diária pelo convés na prática de seus exercícios, Don Rato percebe a presença da Milady Ratinha, que chega para apreciar em todos os sentidos (e ser também apreciada, diga-se de passagem) esta bela manhã que se inicia.

No leme o timoneiro sonado, adormece sem perceber que desviou ligeiramente a rota do navio.

Don Rato, num rasgo de inspiração poética, sobre ao topo do mastro, quase deixando cair nesta façanha, os óculos que sustenta no nariz.

Não se dando por vencido, um olho no horizonte, outro na Milady, e engolindo a custo seu pavor das alturas, recita com voz trêmula, quase inaudível ... "Do alto deste mastro, mil sóis nascidos vos contemplam"...

Milady, que nutre em segredo uma paixão pelo poeta, fazendo—se de desentendida, estica—se languidamente e assume uma pose sedutora para receber os primeiros raios solares.

O navio meio que a deriva, pretende colidir contra um banco de areia.

Aparece então em cena a madame Ratazana que astuta num simples relance e olhos apreende e entende toda a cena.

E antes mesmo da fatal colisão berra desesperada:

— Agh!..ugh!...madeiiiraaaaaaaaaaaa!...

Don Rato, pego de surpresa, escorrega e estatela—se esbugalhado em cima do corderio, no convés.

— Straaashhhhboooommmburghfffftttttttttttt

O timoneiro apavorado, acorda e vê que nada mais poderá fazer. O navio, abalroado, vai mesmo afundar.
Numa rapidez fantástica, acolchoa—se com uma bóia, lança mão do barquinho salva—vidas e berra ainda, antes de zarpar navio a fora e tocar a sirene.

— Homeeemmmmm ao maaaarrrrrrr...

Alvoroço total. Homens e ratos correndo a abandonar o navio.

Os nossos personagens, um tanto quanto mais lentamente que os outros.
Don Raton tentando manter a pose poética ainda esganiça :

— Do meio destas cordas...

A Milady, dando gritinhos frenéticos, agarra-se ao rabo de um gordo e seboso rato velho que vai passando e deixa—se arrastar convés afora.
Dona Ratazana, na sua praticidade :

— Cala boca ó infeliz!... Que do fundo deste buraco lá se vão todos os queijos deste navio...

Ato continuo, lança mão na goela do marido abestalhado e num mergulho certeiro aterriza numa tábua que vai passando...

Asta — jan/98

sábado, 16 de fevereiro de 2008

poema - carnes



carnes


o desejo cru
entre
o espeto e a brasa

a carne mal passada
sangra

coágulo
toda essa bagunça
no chão do peito

passa do ponto
a carne torrada

ardência
toda essa fumaça
nos olhos do teto

perdi o caderno de receitas
da carne ao ponto
numa manhã tranqüila
dia de céu de churrasqueiro

no bar da esquina
servem bife à cavalo

o óleo ruim
utilizado muitas vezes
repete outras histórias
de carnes interrompidas

o sal que salga
conserva
as memórias
de carnes inacabadas

ainda por cima
em excesso
um coração
estrelado



AL-Chaer

para Ana Luisa Peluso

Com a areia da raiva e com os ferros do ódio edifico minha performance medíocre
na face eterna do tempo onde todos os instantes são meros artifícios de se viver.

Registro meu destino no frustrado rosto que me parece indomável em aceitar os
passos frágeis trilhando caminhos ao enfrentar a areia e os ferros.

Entre os escombros a alma se afrouxa no delírio em ser.

Nos olhos resplandece a alegria numa orgíaca festa pobre.

Não fui convidado e por isso não percebi os acontecimentos.

Num golpe só cabeças rolaram num ritual cinematográfico

Implantado o medo, a sociedade burguesa cravou sua angustia nos homens sem destinos.

As idéias como bolinhas de vidros, quebraram janelas revelando os molambos famintos, sedentos e porosos consumindo-se no craque infalível.

E entre eles, esperei o que achei deveria esperar.

Ou será que deixei passar e não percebi?

pastorelli
12.02.2008.
- inspirado no poema sem título, de Ana Luisa Peluso –
Temos estado aqui por tanto tempo;
que eterno me parece esse momento.
Como eterno me parece ser,
o indomável destino
ao qual me propus.

Os caminhos são frágeis,
a força é de ferro, o que não
muda a condição dos caminhos.
Apena há a força.
E permaneço.

As almas são tolas,
mas seguem fluxos
aos quais se adequam.
Os olhos mudam, avisando: tudo mudou, todos mudam;
...ninguém me avisou...
Nem da festa
que haveria, muito menos
das que nunca houveram.
Apenas me convidaram.
Não especificaram trajes,
nem prendas para levar. Nem o porque de estar acontecendo...
Casamento, aniversário, batizado?
Circuncisão de pensamentos!...
Dogmático ritual.
Onde cabeças rolarão.
Por não se compreenderem.
Não se permitirem,
pelo medo lhe fazer a corte.
E essa angustiante eternidade
se faz sensível ao meu ser.
Me entorna as idéias pelo chão,
poroso, sedento, faminto,
de delas tirar o alimento.

O chão engole nossas crias,
e nesse chão tem muita gente
deitada, de bocas abertas,
esperando pela comida.
Ana Luísa Peluso
30.04.00

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A semente possível

tenho a luz na algibeira
e restos de um país em

construção.
na areia as estrelas morrem cegas
enquanto desenho sonhos
na infância longínqua.
há sempre uma fala de búzios
possível na linha de água
com os peixes e os segredos das

escamas
em conciliábulos de sombras
onde um feixe de luz sussurra
a nítida claridade.

josé félix in o outro lado da fala

Poema perdido

Existe um poema vagando por aí
repleto
de palavras
algumas claras,
outras
belas
insanas
profanas
adúlteras
truncadas
mortíferas
abaladas
inseguras


Existia...

Era um poema,
vagando por aí
Incompleto
abaladiço
promíscuo
insensato
quizumbento
ciumento


Era um poema rutundo, gordo
adiposo,
cheio de bazófia
E... explodiu


Agora, chovem palavras por aí

Como eu sei?
Ah! Esse maldito poema
fugiu de dentro de mim


- Asta Vonzodas -
(22jan07)

Flashes de viagem


Local de Destino: Dois Córregos. Cidade interiorana localizada na região central do Estado de São Paulo, distante da capital 272 quilômetros. O tempo de viagem, em ônibus intermunicipal é previsto em torno de 4h30. Nosso motorista do ônibus fretado conseguiu fazer o percurso mais longo.

Objetivo da viagem: A caravana rumava para o II Encontro Estadual de Escritores, que estava sendo realizado na pequena cidade.

Tudo perfeito, dentro dos conformes, não fosse o fato de que às 08h00 o ônibus ainda não tivesse chegado. Isso porque a saída estava prevista para 7h30. O que fez com que alguns chegassem ao ponto de encontro antes das 07h00. Os rumores agitavam o grupo e a preocupação era visível nos rostos que se pretendiam sorridentes, entre cumprimentos formais ou efusivos, dependendo do grau de intimidade dos participantes.

Os que o conheciam, sabiam que Erorci Santana ainda não havia chegado. Os outros (inclusive eu) limitavam-se a lançar, em torno, olhares esperançosos de visualizar o coordenador daquela odisséia. Num dado momento, apresenta-se a mim o Silvio Pirez. Após o prazeiroso conhecimento, respondo numa voz sumida, que Erorci ainda não havia chegado. Na verdade, eu imaginava que não, porque não pressentira nenhuma agitação maior, que sua presença causaria, como de fato aconteceu quando ele surgiu.

Entre os aflitos — Cadê? — O que houve? — Vamos telefonar (celulares sem baterias) e — Já vamos saber. Surge o ônibus, pela Verguerio acima. Soube-se, então, que enquanto permanecíamos aflitos em frente ao número 1.000, o motorista esperava tranqüilamente no número 100. Nós em frente ao Centro Cultural São Paulo e ele em frente ao Mac Donald´s — que também é cultura, porque não? — como disse alguém.

E lá fomos nós em horas intermináveis, rodovias afora. Afinal chegamos. Após toda a apresentação da parte matutina. Na hora do almoço. Mas chegamos, sãos e salvos.

A programação do dia e meio que se seguiu transcorreu normal, quase dentro dos horários previstos. Salvo no domingo, último dia, quando o evento deveria ser encerrado as 12h00. A caravana dos escritores havia sido convidada para almoçar na Usina Santa Adelaide, de José Eduardo Mendes de Carvalho, mestre de cerimônia de Dois Córregos.

Pretendia-se que o almoço começasse por volta de 13h00, o mais tardar. Mas, as 15h00 ainda estávamos na Estância Santa Paula, onde os convidados fechavam suas contas. Entre a preocupação com algo que a Betty Vidigal teria esquecido no Centro Cultural de Dois Córregos; a contagem das *bolinhas que Izacyl teria perdido e o Erorci, provavelmente tomado todas as suas com vinho e os protestos veementes do Raimundo Gadelha, indignado com o atraso e com a má organização, conseguimos chegar ao local as 15h20.

A entrada da Usina assemelhando-se à entrada de uma cidade ostentava placas para diversas localidades: Administração, Carga / Descarga, Fábrica etc.

Enquanto olhávamos e conjecturávamos sobre qual indicação seguir, o motorista, eficiente, obedecendo aos gestos frenéticos do sentinela da guarita, deu marcha a ré e enveredou por um caminho ladeira acima.

Poucos metros adiante demos de cara com um campo de futebol, onde um time inteiro, devidamente uniformizado, já aquecia a musculutura. E parcos torcedores olhavam o ônibus com aquele jeito de caipira curioso.

Decidimos, em uníssono, que efetivamente havíamos sido confundidos com o outro time de futebol.

— Deve ser a partida do Corrégo Um contra Corrégo Dois, sentenciou o, ainda enfezado, Gadelha.
Volta o ônibus sobre o caminho e, depois do devido credenciamento junto ao guarda, seguimos para a sede. Antes de descermos, foi escolhido o horário das 16h30, sem prorrogação, para que todos estivéssemos a bordo, a fim de prosseguirmos a viagem de retorno.
Desembarcou a famélica e cansada tropa, que marchou decidida casa a dentro do simpático José Eduardo, indo instalar-se no salão preparado para a refeição.

Palavras são poucas para descrever o carinho com o que tudo foi preparado e a atenção com a qual fomos agraciados. Fica o registro de um comovido agradecimento.

Dezesseis horas e vinte minutos, todos a postos, a fome saciada, os ânimos amainados, estávamos prontos para embarcar. Não sem antes uma corrida desenfreada, minha e do Beto Guedes, rumo a umas árvores que julgávamos, pés de noz macadâmia. Isso porque haviam nos dito que colheríamos a noz nos pés, quando fomos em busca de informações para comprar o fruto.

Registre-se que comemos fartamente da mesma, durante os dias do evento. O José Eduardo além de usineiro, é um dos produtores de noz macadâmia.

Mas, para nossa decepção, não eram árvores da noz o que havíamos avistado. Voltamos desconsolados para o ônibus que zarpou logo em seguida.

Durante o percurso, o ônibus dividiu-se em grupos onde alguns discutiam o resultado do encontro, enquanto outros ociavam em conversas amenas e pitorescas, e poucos ainda deliberavam a falta de critério dos organizadores, enquanto o veículo atravessava a cidade de Campinas inteira, para deixar o Roldan (segundo as línguas ferinas) na porta de sua casa. O que não foi verdade, já que o propósito era o do próprio motorista pegar sua filha em algum trecho do caminho. Coisa que já estava decidida com a empresa, antes da viagem.

Algum tempo depois de desmbarcado Roldan, ouve-se a voz suave e calma da Ana Luiza (Nilu):
— De quem é aquele sapato que vai fugindo ali no corredor?

Um pé de sapato, impulsionado pelos solavancos do veículo, caminhava valentemente em direção ao motorista. Provavelmente com a firme intenção de descer na próxima parada, que tudo indicava, seria a minha.
Repetida a pergunta, questionando a propiedade do sapato, acabou-se descobrindo sê-lo o Claudio Willer, que para melhor relaxar desvestira o intépido. E este aproveitando-se de uma curva sensível, resolvera cair fora daquela aventura pitoresca.

Acabei saltando no meu ponto: A ponte que não sei o nome, perto daquela avenida que vai dar no bairro da Lapa. Contaram-me, depois, que houve mais divergências sobre ir ou não ir até uma certa estação Tietê do metrô.

Entretanto, apesar de falhas, encontros e desencontros, insatisfações e conformismos, creio que o II Encontro Estadual de Escritores cumpriu seu objetivo, despertando em todos a consciência sobre a responsabilidade que nos compete para estimular o hábito da leitura junto aos estudantes de modo geral.

Os propósitos e enfoque do evento serão relatados em ocasião oportuna.

* Bolinhas de plástico coloridas que equivalem a reais, para compra dos extras não incluídos nas diárias do Hotel.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

a tarde adoecida

um dia vi a minha mãe nua, molhada de março com os cabelos a escorrer o calor da tarde. ao mesmo tempo que crescia o desejo pedia ardentemente a morte por ter visto tanta beleza. depois corri desenfreadamente sobre os picos das piteiras como um fauno, atravessando o rio-seco que vai até à samba pequena no bairro de santa bárbara. comia mabangas cruas com o sangue delas a queimar-me os lábios e salgava-me na água brincando ao mesmo tempo com os caranguejos como a sombra a fugir de mim. regressava sempre a casa em jogos lúdicos com o cão pandita nheru rodopiando a folha de mamoeiro ao pé do tanque da remissão da culpa. a minha mãe acariciava-me as orelhas e segredava-me palavras que ainda hoje me esforço por as ter nas minhas mãos. envergonhado aninhava-me na concha do seu corpo como se quisesse renascer na explosão de relâmpagos que iluminava a tarde adoecida.


josé félix

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

6 – A Dama do Metrô.

Notava mudança insignificante, é claro, levando-a a agir assim de imediato diante de situações provocantes. O psicanalista lhe dissera:


- Isso não é para se desesperar. Você pode tirar proveito disso, desde que não machuque terceiros, entende?


Ela entendia. Sim entendia dentro de uma possibilidade pequena que sua reflexão alcançava. Mas, esse negócio de fogo uterino, esse treco que não sabia de sua existência, então, será que não é isso que as prostitutas tem? Só poderia ser, para estarem todas as noites na rua vendendo o corpo. Não a interessava o que os outros têm ou faziam, o que interessava é o que ela fazia e, o que poderia ganhar com isso. Teve a percepção um mês depois de começado a trabalhar, mais precisamente, começado a pegar o metrô.


Naquele dia, umas duas semanas depois, ainda estando na perspectiva do emprego novo, tendo ficado quase um ano parada, alheia ao que se passava ao seu redor, não reparou no rapaz que se posicionou atrás dela. Por infelicidade a chuva não parava de cair e, com isso, o metrô reduzira a velocidade, o que demoraria a chegar à estação em que desceria. Tinha passado duas estações quando seu corpo foi comprimido, melhor dizendo empurrado contra a mulher a sua frente. Esta, olhando para ela com ar de reprovação, tentou sair do seu campo de violação, o que não adiantou nada, a situação ficou pior.


O corpo do rapaz estava colado ao dela. O calor másculo recendendo perfume e fragrância de quem tomou banho de manhã, invadiu o corpo dela envolvendo-a sexualmente. Pôs-se em guarda, retesou-se toda para o que desse e viesse. Sorriu involuntariamente...


06.10.06
pastorelli

Para Asta teste

Querida entrei, não sei o que está ocorrendo, limpe o cash/histórico do navegador, copie e cole login e senha nos campos indicatos. Fiz o teste em ambos navegadores e entrei em ambos.
beijos
Frô

AQUECIMENTO GLOBAL

CO2 no ar é causador do aquecimento global, dizem muitos cientistas, muitos discordam e um deles é R. Timothy Patterson, professor e diretor do Ottawa-Carleton Geoscience Centre, Department of Earth Sciences, Carleton University. Ele ao contrário do que Al Gore demonstra no seu filme, afirma que devemos nos preocupar e preparar com futuro esfriamento do nosso planeta.

Vejamos o que ele diz:

Numa serie de estudos científicos iniciados em 2002, alguns cientistas de renome internacional demonstraram que a energia solar varia causando também variação no vento solar que protege a nossa maior estrela e assim uma quantidade indefinida de raios cósmicos vindo do espaço infinito conseguem penetrar nosso sistema solar e atingir a atmosfera da Terra. Esses raios cósmicos ajudam a formação de nuvens que de modo geral têm o efeito de refrescar o planeta. Quando a produção de energia solar aumenta, não somente a Terra esquenta um pouco devido ao calor solar, como também o vento solar mais forte ocasionado pelo período de “sol a pino”, bloqueia muito a entrada dos raios cósmicos na nossa atmosfera. A cobertura das nuvens diminui e a Terra se aquece ainda mais.

O oposto ocorre quando o sol brilha menos. Mais raios solares conseguem penetrar pela atmosfera terrestre, mais nuvens se formam, e o planeta esfria mais que o normal. Foi exatamente o que ocorreu nos meados do século 17 até o inicio do século 18 quando a produção da energia solar era mínima e o planeta foi surpreendido com “a Pequena Idade Glacial”. Esses novas descobertas indicam que as variações no comportamento do sol causaram as mudanças climáticas recentes. Assim pode – se afirmar que a variação do CO2 tem pouca correlação com o clima do nosso planeta a longo, médio e mesmo curto prazo.

Em alguns campos da ciência tudo ficou bem esclarecido por exemplo o assunto do “plate tectonics”(movimento da litosfera terrestre) antigamente sujeita a controvérsias, agora está totalmente esclarecido que quase não se ouve mais falar nisso. Entretanto a ciência da mudança no clima global ainda é incipiente e milhares de estudos e opiniões publicados cada ano. Em 2003 votação promovida pelos pesquisadores ambientais alemães Dennis Bray e Hans von Storch, dois terços de mais de 530 cientistas climáticos votantes de 27 países, afirmaram que o estagio atual do conhecimento cientifico não está ainda bem desenvolvido para concluir sobre os efeitos do gás carbono. Aproximadamente metade dos votantes afirmaram que a ciência da mudança climática ainda não está bem sedimentada para aconselhar o que seria politicamente correto.

Cientistas solares prevêem que perto de 2020 o sol iniciará seu mais “fraco”ciclo solar dos últimos dois séculos, provavelmente trazendo um incomum esfriamento da Terra.Iniciar o planejamento da adaptação do período de esfriamento que poderá ser mais extenso que o ciclo de 11 anos como foi o da Pequena Idade Glacial, deveria ser prioritária para os governos.

È o esfriamento global, não o aquecimento que é a principal ameaça para o mundo.

Um dos impactos causado pela Segunda Revolução Industrial (1850) foi o iniciar do aumento da temperatura global. Notou – se o aumento das toxinas na atmosfera. Naquela época foi iniciada a implantação das linhas de bondes, a indústria química expandia,o refino e distribuição do petróleo também. Quando a indústria automobilística chegou ao pico no inicio do século 20, o combustível fóssil iniciou um aumento violento da emissão do CO2 na atmosfera. Coincidência ou de fato existe conexão entre a poluição desse gás e o aumento da temperatura global?

Muitos acham que seria estupidez concluir que apenas o ciclo das flutuações climáticas é o fator principal e que a causa do aquecimento global é obvia, o vilão é o CO2, mas nem sempre o “obvio” significa ser a verdade.

O vai e vem de opiniões é inesgotável, e os governos não conseguem decidir se ou como enfrentar esse perigo que parece iminente.

Medida extrema e imediata demandaria investimento pesado acrescido do fantasma do desemprego.

A montanha de Kilimanjaro na Tanzania virou ícone no debate sobre o aquecimento global, as neves do seu pico estão derretendo e aos poucos destrói o mito criado em torno desse acidente geográfico, romance e aventura, Hemingway eternizou Kilimanjaro.

Cientistas afirmam que o problema é climatológico e não o aquecimento, a temperatura do ar não é a causa. Queda drástica da umidade atmosférica iniciada no fim do século 19 e em conseqüência o surgimento de clima mais seco seriam as causas do derreter no Kilimanjaro.

O assunto é controverso e independente do resultado a população mundial se mobilizou na luta contra a destruição gradativa do eco sistema do planeta Terra e é ela quem vai opinar e decidir, sem sombra de duvida.

I.L

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Para matar as saudades

Convido a todos a fazer uma visitinha no meu Puxadinho virtual.

Coloquei lá, na seção habitantes e visitas um álbum com fotos de muitos dos poetas lusófonos.

Tem gente que não está aqui e está lá e tem gente aqui que não está (Solê eu não tenho uma única foto sua, nem de Amélia, Iosif... bem quem desejar o link é esse, por hora deixei o link aberto até para os que não tem conta no multiply, beijinhos

Frô

LES BIENVEILLEUSES


Todos falam nele, o meio literário está em polvorosa: Jonhatan Littell, um escritor americano de apenas 40 anos e profundo conhecedor da língua francesa é autor de um imenso romance, seu primeiro, de 900 paginas: “Les bienveillantes" (titulo retirado da mitologia grega, as Euménides ,deusas da perseguição, vingadoras, aterrorizantes e eufemicamente chamadas e pelo medo de “les bienveillantes”(as benfeitorias) ,um impressionante relato(de 1941 a 1944), super documentado da criminos administração nazista alemã e sua loucura industrializada e super diligente, retraçando o destino de um dos seus carrascos. Uma nova tentativa de conseguir entender ou pelo menos interpretar o indecifrável.

Situado no meio da segunda guerra mundial, ele conta na primeira pessoa, a história de um franco – alemão nascido na Alsacia, formado em direito, culto (admirador de Lemontov, Stendhal e Flaubert)...perturbado por um relação incestuosa com sua irmã, fato que o perseguirá a vida inteira, pratica o homossexualismo mesmo o detestando.

Enfim, um homem com suas pequenas mentiras, suas perversidades, suas hipocrisias e suas inabaláveis certezas. Funcionário dedicado, sonha em servir seu país com uma abnegação meritória e elogiável...esse homem erudito dotado de um espírito pratico pouco comum foi incumbido pelos seus superiores a cumprir missões no exterior. Objetivo: “aprimorar o rendimento” da infra-estruturar ferroviária entre a Alemanha e seus vizinhos, ir sempre mais longe e mais rápido. Se empenha com afinco de corpo e alma a tarefa, a incessantes reuniões com seus colegas, sempre presente onde era preciso, sem hesitar de suar a camisa na presença dos seus subalternos.

Ele é escravo de si mesmo, do seu trabalho, é exemplar e zeloso. Mas isso não seria suficiente para evitar o emperrar de seus objetivo que ele persegue com tanto fervor: invejas, insultos, rumores maldosos destroem progressivamente esse microcosmo podre dos altos funcionários como ele.

50 anos mais tarde encontramos Herr Maximilien que com nome falso é diretor de uma fabrica de rendas. Sabemos que “imprevistos” fizeram fracassar as ambições grandiosas da Administração do qual participara no passado. E então desaba ao lembrar – se da verdade sobre sua existência monstruosa : daquele oficial da SS trabalhando na destruição da Europa do Leste, do genocídio dos judeus, dos ciganos, dos poloneses , dos comunistas nas mãos criminosas da Einsatzgruppen SS( as equipes moveis acobertadas pelo exercito alemão que assassinavam comunistas e judeus nos territórios conquistados) . Um monstro sem consciência, doutrinado que de nada se arrepende a não ser de ter fracassado na missão da qual foi incumbido...”O que fiz não foi com total conhecimento de causa pensando que fazia parte do meu dever e que era preciso ser feito mesmo sendo desagradável e totalmente desastroso”, falava ao iniciar suas memórias.

Littel l nos pinta um quadro magistral do destino de um homem encarcerado no mecanismo industrial do horror nazista, a execução organizada do genocídio que ele decifra com exatidão sem mergulhar na compaixão, excesso de sentimentalismo. È um trabalho literário ambicioso tentar enxergar e mergulhar no interior do Mal e suas sinistras ramificações que mataram milhões de inocentes. A escolha de escrever na primeira pessoa foi um dificuldade adicional pois não lhe seria perdoado nenhum deslize.

Segundo alguns críticos, o autor peca nos diálogos embora alimentados por um documentação bem examinada(ele estudou por dois anos arquivos escritos, sonoros e filmados da guerra e do genocídio , os atos desse procedimento, os organismos administrativos e militares, os estudos dos historiadores e suas interpretações, leu mais de 200 obras sobre a Alemanha nazista e em especial sobre a batalha do front do Leste como também visitou Cracovia, Kiev, Piatgorsk, Stalingrad...seguiu o caminho da invasão sangrenta da Wermcht na Russia) que às vezes soam inverídicos e artificiais.O mesmo pode ser dito a respeito das descrições dos diversos organismos responsáveis pela exterminação, quase margeia o tédio.

Mas o conjunto é impressionante.

Abaixo o primeiro parágrafo da análise feita por Mario Vargas Llosa

“O leitor sai de Les Bienveillantes, romance de Jonathan Littel que acaba de ganhar o Prêmio Goncourt, na França, onde teve um sucesso de público sem precedentes, asfixiado, desmoralizado e ao mesmo tempo estupefato diante dessa viagem através do horror e a oceânica investigação que tornou possível esse livro. Não me recordo de ter lido um romance que documente com tanta minúcia e profundidade os pavorosos extremos de crueldade e estupidez a que chegou o nazismo no seu afã de exterminar os judeus e outras raças inferiores durante a sua curta, mas apocalíptica trajetória.”

I.L

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

(PRESI) DIÁRIO DE UM ANARQUISTA: OS ELEMENTOS 01, 02, 03


(PRESI) DIÁRIO DE UM ANARQUISTA: OS ELEMENTOS 01


01
a manhã me veste
e me despe o entardecer
na cama da noite
a lua me sonha
nua no querer

02
esse gosto marrom
que me erra
marrom? não,
sou terra

03
balancei o vento
na árvore do descanso.
em prantos
o rio queria me afagar
afogar as mágoas
nas águas do meu olhar


(PRESI) DIÁRIO DE UM ANARQUISTA: ELEMENTOS 02


04
a chuva
semeou
o rio
e me
brotou
o sorriso
das águas

queimando
o sol
só, te brilharei

05
em noite
grávida de lua
o céu, sobre o sol,
não vê
gravidade na sua

06
ensolarado
te queimo no infinito
você chove de prazer

semente-se em mim
me brota e te brotarei

(PRESI) DIÁRIO DE UM ANARQUISTA: ELEMENTOS 03


07
amanhecemo-nos sozinhos
você em flor aberta
meu coração canta o passarinho

08
o vento
me lavra
e brota
palavras.
a mim,
coube
semear
tempestades

09
de manhã
disseram
que foi deus,
de noite
sei que fui eu



para Amelia Pinto Pais

Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de emoção
deparo-me com o abismo do que devo e do que não devo e digo o que não quero
e penso no imponderável calando-me diante do ponderável


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de comoção
entrego-me à fala muda dos símbolos emoldurando a vida na arte de viver
e vivo esmurrando ponta de faca diante da timidez que me cala


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de paixão
dispo-me do ser que sou e desejo ser o que não sou e deparo-me com o que não quero entre o ser e o não ser no fundo do copo contemplando a burguesia falida


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de pecado
desfaço-me dos nós enrolados no perdido e vazio sentimento que à margem do prazer navega nas ondas da decepção e do ilusório êxtase carnal


Nos intervalos da minha vida o sentir escala vários graus de amor
onde disputo a caça entre caçadores vorazes pela presa fácil que futuramente
constará no relatório sexual


Nos intervalos da minha vida o sentir nunca tem respostas...


pastorelli
08.02.2008


- poema inspirado em “Intervalo do sentir”, de Amelia Pinto Pais

Intervalo do sentir

o que se sente entre o que se pensa e diz
o que se pensa entre o que se sente e cala
o que se cala entre o sentir e o ser
o que se diz entre o que se ama e sonha

nós
no mais fundo de nós
nós perdidos
nós vazios
nós à margem

desarmados
desamados

Quem vai responder o que não tem resposta
Quem vai falar o que não tem palavra
Quem vai achar o que em nós esquece
Quem vai roer o que em nós sufoca
Vem noite ou pranto ou dia ou vento
Quem quer que sejas mas que seja o novo
Abrindo um canto em tua carne clara.


Amelia Pinto Pais

doação


para Soledade


nunca te pensei porto para rotas

embarcações apenas caminho

compartilhado nunca te

quis guia dos meus inúteis


combates comigo

mesmo somente par nas

incompreendidas

saudades


havia tanta coisa a

fazer nesta terra

inclemente de mãos

dadas e quando a



noite se desfez nossas

frágeis palavras enfim encheram

se de

asas





Adair Carvalhais Júnior

domingo, 10 de fevereiro de 2008

CINEMA & AMIZADE


Amo o cinema, é paixão, ao assistir a um filme entro em transe, alfa e outras situações irracionais do prazer. Viciei – me em pesquisar a internet atrás dos lançamentos e confesso sem menor pudor que uso de todos os artifícios para baixar os escolhidos e os guardar na catedral do meu HD. Escolho primeiro pelo artista, tenho meus preferidos, pelo diretor, depois vasculho a critica, não gosto de roteiros sobre o passado (filmes de época), não gosto de terror, excesso de sexo, de muitos efeitos especiais, abro espaço para Tarantino, Wood, etc., etc.

O ultimo escolhido foi um ainda não passando no circuito do Rio, The Things We Lost in The Fire(as coisas que perdemos no incêndio). O escolhi por causa dos interpretes, Halle Berry, linda negra que é injustiçada pelos críticos embora já tendo ganhado um Oscar e pelo Benicio Del Toro, adorado pelos críticos e também ganhador de Oscar.

O enredo é quase banal, casal feliz, dois filhos, o marido morre, a viúva chora, no enterro encontra o melhor amigo do marido, advogado fracassado, drogado, falido, resolve num impulso convidar ele morar na mansão, o cara é boa praça, conquista o amor das crianças, recai no vicio, é expulso, ela o traz de volta, vivem em harmonia por uns tempos, ele é convencido a se internar pra se curar, etc., etc., filme feito pra ganhar Oscar, os críticos meteram o pau, mas fizeram uma exceção elogiando o soberbo trabalho do Benicio, mas eu do meu lado também incluo a atuação de Halle, os críticos que se danem. Os senhores críticos acharam o filme banal por tratar de um assunto muito batido, a luta pela “limpeza” da droga com enfeites irreais como o da viúva sem mais nem menos acolher o amigo do marido a quem ela detestava

O filme a mim me tocou de outro jeito: é história de uma amizade que ultrapassa as fronteiras da morte, flui pela mulher viúva, pelas crianças órfãs, vence a desgraça da heroína e ponto final.

E pulo para um assunto que me fascina: a amizade.

O que é AMIZADE? Pra mim é uma das maiores bênçãos que Deus pode dar a um Ser Humano.

A Torà, tem um trecho que diz:” Eu tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida... A gente não faz amigos, reconhece-os”


Segundo Michel de Montaigne, a amizade assinala o mais alto ponto de perfeição da sociedade. E não deve estar relacionada com interesses públicos e privados, jamais em função de partidos ou religiões. Os seus Ensaios bem que poderiam ser leitura obrigatória para os talentos jovens, muitos deles ainda cambaleando entre a ingenuidade e a inexperiência.

Em 1878 foram publicadas umas reflexões de Friedrich Nietzsche, intituladas Humano, Demasiado Humano. Elas dividiam as pessoas que sabem fazer amizades em duas grandes categorias: as escadas e os círculos. Na primeira, se inserem aqueles seres humanos que para cada etapa do seu desenvolvimento encontra os amigos adequados, que raramente se relacionam entre si. Na segunda tipologia se classificam aqueles que possuem amigos de talentos e caracteres sociais os mais diferenciados, onde todos muito bem se relacionam, relevadas as variedades. E Nitzsche é conclusivo: “Em várias pessoas, o dom de ter bons amigos é muito maior que o dom de ser um bom amigo”.


A verdadeira a Amizade independe de ideologia, religião, conta bancária, sexo, sobrenome, idade e local de residência.

Fiz a minha lista incluindo os falecidos: encontrei um, dois, três...tão poucos.

Meus grandes amigos já se foram, um ou dois que restam estão a caminho da extinção e eu junto com eles.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

5 – A Dama do Metrô

Ninfomaníaca?
Ela uma ninfomaníaca diziam as amigas. A primeira vez que viu essa palavra foi no filme Teorema, de Pasolini. Mas no filme a personagem torna-se ninfomaníaca para ficar mais perto do Anjo que a seduzira. Com isso tinha, cada vez que dormia com um rapaz, o Anjo que ela não podia ter mais. Era uma maneira de se santificar.
O que as amigas não entendiam era o furor uterino que não a deixava sossegada. Precisava
aplacar essa desenfreada patologia uterina.
Acendeu um cigarro. Soltou uma longa baforada.
Tomando seu chope tranqüilamente observava os pedestres em seus afazeres burocráticos ou porque tinham aonde ir. Cansada da insana noite, queria no momento dormir. No entanto, sentada na lanchonete, ouvindo conversas esparsas, prestando atenção aqui e ali, no fundo, as amigas, tinham um quê de verdadeiro. Sentia necessidade de provocar a sexualidade alheia, principalmente à masculina. Era um desafio que propunha a ela mesma sair vencedora. Até o momento, achava-se vencedora. Não tinha um Anjo, ou dizendo mais literariamente, não tivera um Anjo que a seduzira.
Talvez sua primeira aventura?
Não, não foi e nem poderia considerar como sendo, porque o caráter da sedução era outro, tinha um outro propósito.
No filme o Anjo simplesmente apareceu e abriu os olhos da personagem, demonstrando a ela, a vida monótona e insípida em que vivia. Enquanto que ela, não tinha e não precisava de um Anjo para abrir os seus olhos.
Não tinha uma vida monótona e insípida, sua vida foi sempre cheia de aventura...
04.10.06
pastorelli
Três estudos - a morte

Estudo nº1

Diz-se que a morte é o repouso longo.
De cada vez que te vejo através da pedra
trago a tua existência para os caminhos
da cidade incendiada por facínoras
que matam a vida a pisar os próprios passos.
Vens e vives comigo, lado a lado
a recordar velhas fotografias coladas na parede
onde a cal se cola às tuas mãos
e as tuas mãos se colam no meu rosto
e o meu rosto igual ao teu vê-te
espelho a perscrutar os meus olhos.
No repouso da terra repousa o pó
que se multiplica na voz possível
quando a flor se abre na urgência do pólen.


Estudo nº 2

Diz-se que a morte é o repouso das estações.
A mesma árvore repousada na terra
multiplica os ramos e floresce
quando o sol poliniza uma tarde de Turner
e o teu rosto acaricia os cílios
os pálios da religião da memória
a lavrar o tempo no corpo representado.
Onde a cal se cola às mãos
os dedos em fogueira consomem
a madeira apodrecida que descobre o corpo
abraçado ao pó na fantasia de nada.
A fala é o eco do silêncio adormecido
nas arestas das pedras, no murmúrio das folhas
e quando, sem querer, o rosto se ilumina no
mostrador do relógio.


Estudo nº 3

Diz-se que a morte é o repouso dos gestos
que prolongam a fala nos dias lúdicos
e Deus não tem explicação para o sabor
de um fruto colhido na imaginação do sorriso.
Os lábios aquecem a palavra fria
na fixação da natureza morta que sobrevive
na porcelana pousada na madeira velha.
Onde a cal se cola às mãos, desenho
o teu rosto que vive nas paredes brancas
da sala em combustão, e a memória
é presa fácil de sombras, companhias
de pólen e de pétalas de flores
que se abrem quando o vento fere os dedos
e as mãos sentem o pedúnculo frágil prender os lábios.


José Félix, íntima loucura, Lisboa, 2007

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

poema - PÓ & Cia

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...e muito tempo depois do S.Ó.S.(no recente novembro de 2007), ALpareceu outro poema que só tem título...
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PÓ & Cia
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AL-Chaer
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poema - S.Ó.S

O poema que segue foi publicado no livro "partitura" (AL-Chaer, poemas, UCG Editora, 2006).
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Segundo a Silvana Guimarães, este poema é o menor poema que ela já leu (sic na época, início do ano 2000). A Silvana leu este poema há muito tempo, mas, se de lá pra cá, ela já leu um poema menor que este (e olha que a Silvana lê muito!), vamos considerar que este poema esteja entre os menores poemas que a Silvana já tenha lido.
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Sabemos que poema não se mede, nem com régua, nem com trena, nem com paquímetro, nem com metro de pedreiro, nem com fita de costureira. Mas, se a Silvana falou, tá falado! E a Silvana não é uma menina desmedida.
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E vou parar por ALqui, senão passamos das medidas.
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S.Ó.S.
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AL-Chaer
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Dádiva

MEU POEMA
SE PERDEU
MAS ONDE
ESTIVER
ELE É SEU

(Rubens Pesenti)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Série Cartões Poemas


Série Cartões Poema


4 – A Dama do Metrô

Estava conhecendo uma nova sensação. Não poderia dizer se esquisita, não, não era esquisita, mas estranha, algo que ainda não conseguia explicar.
Seu olhar deslizou pelo ambiente. Simples, modesto, próprio para quem mora sozinho. Aparelho de som, cds espalhados, livros empilhados num canto, um pouco de bagunça como é o costume dos solitários.
Acendeu um cigarro. Dobrou a perna e o lençol escorregou deixando a mostra sua coxa grossa, lisa, amorenada. Sorriu ao ver sua posição sexy estampada no espelho da penteadeira.
Sorriu também por estar ali, por passar por essa experiência a qual se propusera, seguindo, ou melhor dizendo, concordando com a teoria de um poeta que lera recentemente.

“Todo ser humano tem que passar por tudo e qualquer experiência, sejam ela qual for”.

Realmente, mas nem todos têm a capacidade mental equilibrada para certas experiências.
Ouvia o barulho da água do chuveiro lavando cheiros e suores impregnado na pele dela, seus cheiros e suores que foram misturados tornando-se parte da longa e louca noite.
Acendeu outro cigarro. Gostava de fumar não pelo prazer de sentir a nicotina, mas pelo prazer de que o cigarro a fazia pensar. E dentro da fumaça do cigarro que espiralando sumia no ar do quarto, lembrou como foi que chegou aqui. Tudo por causa de um toque. Um toque que foi dado no seu dedo ao segurar a barra de ferro do trem.
Como sempre meio atrasada, desceu a plataforma do metrô e entrou sem pensar no primeiro que chegou. A sorte que o metrô não estava abarrotado, conseguira um lugar, mesmo que tivesse de ficar com o braço esticado segurando na barra de ferro. Nesse momento, sentiu o toque, olhou para a sua mão e viu outra mão delicadamente alisando seus dedos. Deparou com um olhar feminino sorrindo melosamente para ela. Meio que sem graça retirou a mão.
- Ola, tudo bem, cumprimentou a dona da mão atrevida.
- Ola, respondeu.
Começaram a conversar alegremente, e ela foi se encantando com a moça simpática, bonita, atraente, bem feminina. Quando foi convidada, aceitou ressabiada. Mas agora, ali no quarto, enquanto fumava ouvindo o chuveiro molhando a pele da companheira, chegou à conclusão que aquilo não era com ela. Tinha tido isso a ela, e ela lhe dissera.
- Use a imaginação, pense que você está com outra pessoa, com o seu namorado...
- Não tenho namorado.
- Então com algum homem que você gostaria de transar.
Ela na era mulher de imaginação, era mulher de ação, não era de ficar imaginando uma pessoa estando com outra. De sentir borracha entre as pernas, consolo é só para gays solitários que não conseguem conquistar ninguém. Não, ela não era para isso.
Portanto, precisava sair logo dali. Vestiu-se, e deixou um bilhete em cima do criado mudo.

“Sinto muito. Foi um prazer conhecê-la, mas o meu negócio é homem mesmo. Felicidades.”
Pegava o elevador quando ela saiu do chuveiro e lia o bilhete.
03.10.06
pastorelli

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

DUETO AMOROSO


Êxtase de beijos
Feito caniço existo
Para ganhar carinho do vento.
Teu sopro varre meus pêlos
Viro lânguidas folhas eriçadas


Construímos geometria sem retas
Para mãos em conchas
Descobrirem os caminhos da pele
Nossa orquestra afina ritmos
No pulsar de cada músculo


Meu corpo tronco balança
Tranço minhas pernas
Meus braços enlaçam tua nuca
Danço, faço música


Nesse dueto virtuoso
Viro lacuna de mim.
Repleta de tua melodia
Tento não sucumbir
Quando tocas meu corpo-platéia


Vergo às notas da paixão
Sou frágil corda sinuosa
Ao compasso do tempo



Mulher-bambu
Nascida para compor
Canções amorosas
Em parceria com o vento


(Frô)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

para Al-chaer

o gozo dos olhos é a beleza dos corpos na intimidade
do prazer em sentir outra vida glorificando vidas
o gozo do sorriso é o sorrir dentro a satisfação do sexo
na entrega total satisfatória e continua renascendo sempre

o gozo corre pela espinha do paladar lambendo língua com língua
e na multiplicação de caminhos que se encontram na vertical
o gozo se infiltra nos poros dilatados dos músculos e veias
alongando a sede dos pêlos intumescidos de satisfação
o gozo do coito se agasalha no grito animalesco onde
as palavras esconde no estômago a mudez dos lábios
o gozo se infiltra no sabor do liquido da vida revelando
a verdade renascidos nos corpos o prazer de sentir vida

pastorelli
01.02.2008

- poema inspirado em “gozo”, de Al-Caher
gozo
começa e termina pelos
olhos
pele começa e termina em s
orriso
entrega começa e termina aos
dedos
paladar começa e termina nas
línguas
multiplicação dos caminhos
e dos sentidos
dilatação dos poros
e entranhas e músculos e veias e pêlos
alongamento da sede começa e termina com
grunhidos
kiai dos bichos acasalados
o coito da cópula ruminante
de palavras geradas no estômago
dissolvidas na garganta
desnecessárias no significado dos lábios
a verdade mais molhada
do abraço
tempo
dos corpos renascidos
recomeçando
AL-Chaer